Commodities: mercados com alta volatilidade em abril

            Os fundamentos de oferta e demanda global perderam em abril para a ação dos fundos de investimentos no mercado internacional, devido às perspectivas de elevação das taxas de juros nos países desenvolvidos. Isto, associado à antecipação da atuação do chamado 'weather market' (mercado de clima) no plantio da safra norte-americana 2005/06, definiu os movimentos das cotações das principais commodities agrícolas nos diferentes mercados internacionais.
            Como resultado, verificou-se que sete das nove commodities analisadas neste artigo apresentaram queda de preço no mercado de futuros e somente o algodão e o café robusta fecharam o mês em alta. É verdade que o boi gordo apresentou pequena alta na BM&F devido ao fato de que o valor do dólar em reais caiu mais que o preço do produto no mês. Mas, no acumulado de 12 meses, grãos, fibras e borracha natural continuam com expressivas variações negativas, como nos casos de algodão, soja, milho, trigo e borracha.
            Assim, as baixas de grãos e fibras em abril reduziram as expectativas de reversão iniciadas em março para a tendência ao longo de doze meses. Na tabela 1, são apresentados os resultados da análise das cotações externas das principais commodities agrícolas, com base nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, ocorridos em abril, negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, abril de 2005 e o acumulado em 12 meses (em percentagem)
 

Commodities
Mercado
Abril 2005
Acumulado 
Acumulado 
Açúcar
NY
-5,91
-5,31
24,26
Algodão
NY
3,51
25,97
-12,03
Café arábica
NY
-4,85
22,12
70,69
Café robusta
Lo
4,14
34,17
40,66
Suco Laranja CC
NY
-1,02
14,19
57,50
Soja grão
CHT
-1,63
16,59
-36,07
Milho 
CHT
-2,38
3,47
-32,84
Trigo
CHT
-7,42
5,56
-19,78
Borracha SM20
Malásia
-2,30
3,08
-5,79
Boi
BM&F
0,45
-5,24
8,12
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            A antecipação em abril do chamado mercado de clima para a soja, devido às instabilidades climáticas nos Estados Unidos durante o plantio da safra e à ausência da China no mercado, provocou redução na cotação do mercado futuro em abril, em Chicago, com efeitos diretos nas cotações de milho e trigo, apesar das condições mais estáveis das safras brasileira e argentina no período. Os preços do algodão continuaram se recuperando em função do crescimento das exportações norte-americanas e de aumento da demanda por parte da China.
            Já as cotações do milho foram influenciadas pelas cotações da soja e pela expectativa de aumento na área plantada nos Estados Unidos. O mesmo ocorre com o trigo, tendo em vista o andamento normal do plantio e a expansão da área cultivada com o cereal.

            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

 


            Para o suco de laranja, as cotações médias caíram 1,02% em abril, apesar de os fundamentos do mercado indicarem alta, em função da quebra da safra da Flórida da ordem de 38% e da menor oferta de laranja no Estado de São Paulo, indicando os efeitos especulativos das ações dos fundos de investimentos no mês. Já as cotações do açúcar apresentaram queda de 5,91%, apesar das informações de relativo equilíbrio da oferta e demanda internacional, devido às ações dos fundos e induzido pelo aumento da produção prevista pelo Brasil cuja safra já iniciou este ano.

            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            As cotações médias do café arábica, cujos fundamentos são altistas por conta da previsão de déficit mundial, fecharam com queda de 4,85% em abril, pressionadas pelos movimentos dos fundos e pelo crescimento das exportações mundiais nos últimos meses, segundo a Organização Internacional do Café (OIC)1. O café robusta manteve a tendência de alta, sustentada por estiagem no Vietnã, com as cotações médias do produto no mercado de futuros de Londres crescendo 4,14%, no mês. As cotações médias em abril do café arábica indicam, nos últimos 12 meses, crescimento de 70,69%, a maior variação observada entre os produtos analisados (tabela 1).
            A expectativa é de manutenção da tendência de alta das cotações dos cafés arábica e robusta, como pode ser observado nos gráficos abaixo:
 

            As cotações da borracha natural mantiveram-se em queda no mês de abril, ainda que com leve crescimento em 2005, e continuam com tendência indefinida no acumulado de 12 meses. Essa queda da cotação, que participa na formação dos preços recebidos pelos produtores de borracha natural no Estado de São Paulo, associada à forte valorização do real no mês, sinaliza para uma redução da cotação aos produtores aos produtores paulistas do produto.
            Por outro lado, as cotações médias do boi em abril, em dólar, na BM&F, apresentaram leve alta (de 0,55%), devido a uma valorização do real superior à queda nas cotações do produto.
            O comportamento das cotações dos dois produtos pode ser observado nos seguintes gráficos:

            A produção agropecuária brasileira continuou em abril a contar as perdas na safra de grãos, devido à intensa estiagem que atingiu os estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, em plena fase de desenvolvimento das culturas, e também ao excesso de chuvas no Estado do Mato Grosso. Isto comprometeu as produtividades esperadas e também tem provocado perdas expressivas no rendimento gerando uma colheita inferior à do ano agrícola 2003/04.
            Após a forte recuperação das cotações de grãos e fibras em março, verificou-se em abril uma queda generalizada nos seus preços, em função da intensidade da colheita, da queda das cotações nos mercados internacionais e do menor valor do dólar em reais (caiu cerca de 5,06% no mês).
            A confirmação de uma safra menor - com cotações que não reagem e dificuldades em liquidar os financiamentos junto a bancos, cooperativas e fornecedores - tem gerado um desânimo geral no setor, com queda nas vendas de máquinas e equipamentos agrícolas, fertilizantes e defensivos, induzindo a uma menor área plantada na próxima safra. Ao lado das dificuldades do Governo Federal em implementar medidas de políticas públicas para administrar essa situação de crise, surge a informação de que a divulgação do plano de safra de 2005/06 deverá sofrer atrasos. Esta situação acabará se constituindo em forte incerteza que paira sobre o plantio da safra futura.  

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1 OIC: www.ico.com

2Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-32/2005

 

Data de Publicação: 10/05/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor