Commodities: cotações em alta e recuperação de perdas

            Os fundamentos de oferta e demanda global, apesar do movimento dos fundos de investimentos, foram determinantes para o comportamento das cotações das principais commodities agrícolas no mercado internacional em março. Neste mês, sete das nove commodities internacionais analisadas apresentaram crescimento de preço no mercado de futuros e somente o açúcar e a borracha natural fecharam o mês em queda. Mas, no acumulado de 12 meses, grãos e fibras continuam com fortes variações negativas, como nos casos de algodão, soja, milho e trigo.
            Assim, as expressivas altas de grãos e fibras em março começaram a definir uma reversão da tendência aolongo de doze meses. Na tabela 1, são apresentados os resultados da análise das cotações externas das principais commodities agrícolas, com base nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, março de 2005 e o acumulado em 12 meses (em percentagem)
 

Commodities
Mercado
Março 2005
Acumulado 2005 
Acumulado 12 meses
Açúcar
NY
-2,83
0,64
40,98
Algodão
NY
13,25
21,69
-21,64
Café arábica
NY
11,97
28,34
73,29
Café robusta
Lo
16,46
28,84
35,71
Suco Laranja CC
NY
11,57
15,36
54,55
Soja grão
CHT
18,51
18,52
-34,51
Milho 
CHT
6,35
5,99
-28,05
Trigo
CHT
12,95
14,02
-10,82
Borracha SM20
Malásia
-1,28
5,51
-3,80
Boi
BM&F
-5,05
-5,67
7,87
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F.

            A estiagem, que atingiu a agropecuária brasileira (regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste) e com menor intensidade as da Argentina e do Paraguai, deve reduzir a produção mundial esperada de soja, com a recuperação das cotações do produto no mercado de futuros, o que se deverá confirmar nos próximos meses. Os preços do algodão recuperaram-se em função do crescimento das exportações norte-americanas e de um aumento da demanda por parte da China.
            Já as cotações do milho, mesmo com a supersafra dos países do Hemisfério Norte, continuaram com leve recuperação em função da maior demanda americana para produção de etanol. E as cotações do trigo tiveram expressiva alta em março, devido a aquecimento do mercado internacional e à expectativa de menor área de plantio na safra futura no Hemisfério Norte.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

 

            Para o suco de laranja, as cotações médias subiram 11,57% em março, em função da quebra da safra da Flórida da ordem de 38% e da menor oferta de laranja no Estado de São Paulo, o que manteve os fundamentos de alta. Já a recuperação da produção de açúcar da Índia, bem como as estimativas preliminares de supersafra de cana-de-açúcar no Brasil, está gerando expectativa de maior oferta, com efeito baixista sobre as cotações do produto no mercado internacional.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:


            O café arábica confirmou a tendência de alta, sustentada pelo déficit mundial decorrente da menor oferta do Brasil e demais produtores latino-americanos e mesmo do Vietnã, mas o mercado apresentou alta volatilidade. As cotações médias em março fecharam com 11,97% de aumento e acumulam alta de 72,4% em doze meses, tornando o arábicao produto com o maior crescimento (tabela 1).
            Ao mesmo tempo, a menor oferta de café robusta no mercado internacional fez com que as cotações médias continuassem com forte alta em março. Atingiram16,46%, iniciando uma fase de recuperação das cotações do produto no mercado de futuros de Londres, em virtude de intensa seca enfrentada pelos cafezais do Vietnã.
            A expectativa é de manutenção da tendência de alta das cotações dos cafés arábica e robusta, como pode ser observado nos gráficos abaixo:

            As cotações da borracha natural apresentaram queda no mês de março, ainda que com crescimento em 2005, e continuam com tendência indefinida no acumulado de 12 meses. Essa queda da cotação, que participa na formação dos preços recebidos pelos produtores de borracha natural no Estado de São Paulo, sinaliza para uma menor cotação aos produtores, uma vez que a taxa média do câmbio se manteve estável no período.
            Por outro lado, as cotações médias do boi em março na BM&F apresentaram forte baixa (de -5,05%), reforçando a queda que se verificava desde novembro de 2004. Isto se deve ao fato de se estar em plena safra, além de a oferta ter sido beneficiada com o aumento no abate de fêmeas e de se ter verificado baixo consumo no período de quaresma e semana santa, bem como pelo efeito da valorização do real.
            O comportamento das cotações dos dois produtos pode ser observado nos seguintes gráficos:

            A produção agropecuária do Brasil confirmou em março as pesadas perdas na safra de grãos, devido à intensa estiagem que atingiu os estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, em plena fase de desenvolvimento dos grãos, e também ao excesso de chuvas no Estado do Mato Grosso. Isto comprometeu as produtividades esperadas.
            A confirmação dessas perdas provocou forte reação dos preços recebidos pelos produtores de grãos e fibra. Neste contexto, surgiram inúmeras reivindicações anticíclicas, visando a dar suporte aos produtores que tiveram pesadas perdas. Parte das perdas será compensada pelo aumento verificado nos preços recebidos pelos produtores que, no mês, atingiu 24,83% para o milho e 21,77% para a soja.
            Ao mesmo tempo, cabe destacar a ação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1 com o objetivo de prorrogar os créditos de custeio e de investimento, além do aporte de novos recursos para comercialização da safra em andamento, visando facilitar o fluxo de comercialização, para que os produtores possam definir o melhor momento para a venda de sua produção.
            No nível dos micros e pequenos produtores, a ação do governo tem oobjetivo de pagar o seguro relativo às perdas e, ao mesmo tempo, de garantir uma renda mínima pelo prazo de até seis meses para manutenção de suas famílias e de viabilizar os cultivos de inverno, o que permitirá que retomem suas atividades produtivas.2
 

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1 Medidas implementadas pelo MAPA (03/2005) (www.agricultura.gov.br)

2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-23/2005 

Data de Publicação: 07/04/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor