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Commodities: cotações em alta e recuperação de perdas
Os
fundamentos de oferta e demanda global, apesar do movimento dos fundos de
investimentos, foram determinantes para o comportamento das cotações das
principais commodities agrícolas no mercado internacional em março. Neste mês,
sete das nove commodities internacionais analisadas apresentaram crescimento de
preço no mercado de futuros e somente o açúcar e a borracha natural fecharam o
mês em queda. Mas, no acumulado de 12 meses, grãos e fibras continuam com fortes
variações negativas, como nos casos de algodão, soja, milho e trigo. Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, março de 2005 e o acumulado em 12 meses (em percentagem) A
estiagem, que atingiu a agropecuária brasileira (regiões Sul, Sudeste e
Centro-oeste) e com menor intensidade as da Argentina e do Paraguai, deve
reduzir a produção mundial esperada de soja, com a recuperação das cotações do
produto no mercado de futuros, o que se deverá confirmar nos próximos meses. Os
preços do algodão recuperaram-se em função do crescimento das exportações
norte-americanas e de um aumento da demanda por parte da China.
Assim, as expressivas altas de grãos e fibras em março começaram a definir uma
reversão da tendência aolongo de doze meses. Na tabela 1, são apresentados os
resultados da análise das cotações externas das principais commodities
agrícolas, com base nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda
posição de entrega, negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de
Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na
Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.
Fonte: Elaborado pelo IEA a
partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F. Commodities Açúcar Algodão Café arábica Café robusta Suco Laranja CC Soja grão Milho Trigo Borracha SM20 Boi
Já as cotações do milho, mesmo com a supersafra dos países do Hemisfério Norte,
continuaram com leve recuperação em função da maior demanda americana para
produção de etanol. E as cotações do trigo tiveram expressiva alta em março,
devido a aquecimento do mercado internacional e à expectativa de menor área de
plantio na safra futura no Hemisfério Norte.
Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
Para o
suco de laranja, as cotações médias subiram 11,57% em março, em função da quebra
da safra da Flórida da ordem de 38% e da menor oferta de laranja no Estado de
São Paulo, o que manteve os fundamentos de alta. Já a recuperação da produção de
açúcar da Índia, bem como as estimativas preliminares de supersafra de
cana-de-açúcar no Brasil, está gerando expectativa de maior oferta, com efeito
baixista sobre as cotações do produto no mercado internacional.
Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
O café
arábica confirmou a tendência de alta, sustentada pelo déficit mundial
decorrente da menor oferta do Brasil e demais produtores latino-americanos e
mesmo do Vietnã, mas o mercado apresentou alta volatilidade. As cotações médias
em março fecharam com 11,97% de aumento e acumulam alta de 72,4% em doze meses,
tornando o arábicao produto com o maior crescimento (tabela 1).
Ao mesmo tempo, a menor oferta de café robusta no mercado internacional fez com
que as cotações médias continuassem com forte alta em março. Atingiram16,46%,
iniciando uma fase de recuperação das cotações do produto no mercado de futuros
de Londres, em virtude de intensa seca enfrentada pelos cafezais do Vietnã.
A expectativa é de manutenção da tendência de alta das cotações dos cafés
arábica e robusta, como pode ser observado nos gráficos abaixo:
As cotações da borracha natural apresentaram queda no mês de março, ainda que com crescimento em 2005, e
continuam com tendência indefinida no acumulado de 12 meses. Essa queda da
cotação, que participa na formação dos preços recebidos pelos produtores de
borracha natural no Estado de São Paulo, sinaliza para uma menor cotação aos
produtores, uma vez que a taxa média do câmbio se manteve estável no período.
Por outro lado, as cotações médias do boi em março na BM&F apresentaram
forte baixa (de -5,05%), reforçando a queda que se verificava desde novembro de
2004. Isto se deve ao fato de se estar em plena safra, além de a oferta ter sido
beneficiada com o aumento no abate de fêmeas e de se ter verificado baixo
consumo no período de quaresma e semana santa, bem como pelo efeito da
valorização do real.
O comportamento das cotações dos dois produtos pode ser observado nos seguintes
gráficos:
A
produção agropecuária do Brasil confirmou em março as pesadas perdas na safra de
grãos, devido à intensa estiagem que atingiu os estados de Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, em plena fase de
desenvolvimento dos grãos, e também ao excesso de chuvas no Estado do Mato
Grosso. Isto comprometeu as produtividades esperadas.
A confirmação dessas perdas provocou forte reação dos preços recebidos pelos
produtores de grãos e fibra. Neste contexto, surgiram inúmeras reivindicações
anticíclicas, visando a dar suporte aos produtores que tiveram pesadas perdas.
Parte das perdas será compensada pelo aumento verificado nos preços recebidos
pelos produtores que, no mês, atingiu 24,83% para o milho e 21,77% para a soja.
Ao mesmo tempo, cabe destacar a ação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1 com o objetivo de prorrogar
os créditos de custeio e de investimento, além do aporte de novos recursos para
comercialização da safra em andamento, visando facilitar o fluxo de
comercialização, para que os produtores possam definir o melhor momento para a
venda de sua produção.
No nível dos micros e pequenos produtores, a ação do governo tem oobjetivo de pagar o seguro relativo às perdas e, ao mesmo tempo, de garantir uma renda mínima pelo prazo de até seis meses para manutenção de suas famílias e de viabilizar os cultivos de inverno, o que permitirá que retomem suas atividades produtivas.2
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1 Medidas implementadas pelo MAPA (03/2005) (www.agricultura.gov.br)
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-23/2005
Data de Publicação: 07/04/2005
Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor