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Trigo: produção paulista poderá aumentar em 2005
Em 2004, quinze anos após a produção e a comercialização do trigo serem privatizadas, a área colhida no Brasil aumentou 12,0 %, atingindo a extensão recorde de 2,8 milhões de hectares e resultando em 5,8 milhões de toneladas, 3,6% inferior às 6,0 milhões obtidas na safra anterior. Esta produção supre 56% do consumo nacional. Figura 1 - Taxa de Câmbio e Preço de Trigo Recebido pelos
Produtores - São Paulo. Janeiro de 2000 a Março de 2005
Apesar de a safra ter sido menor em função da ocorrência de estiagem e de geadas, o resultado ainda foi satisfatório, uma vez que atingiu patamar bem superior ao que se observava no decênio 1993-2002. Nesse período, o maior volume colhido foi a 3,4 milhões de
toneladas em 2001, continuando a situação de menor dependência de importações
conquistada na temporada anterior. Sob o ponto de vista do triticultor,
porém, o resultado deixou a desejar. Além da queda de 14% na produtividade média
nacional, que se situou em 2,1 toneladas por hectare, contra 2,4 toneladas no
ano anterior, os preços do produto apresentaram forte retração a partir de
agosto, período inicial da colheita.
Em São Paulo, os preços médios recebidos pelos produtores caíram de R$ 428,00
por tonelada em outubro de 2003 para R$ 352,00 por tonelada em outubro de 2004.
No Paraná, maior estado produtor, no mesmo período os preços declinaram de R$
420,00 por tonelada para R$ 370,00 por tonelada, FOB-Cascavel.
A redução dos preços do trigo nessa época está de acordo com a sazonalidade do
produto. Todavia, o fenômeno foi agravado pela coincidência com a queda
acentuada da taxa de câmbio a partir de setembro, além de que foi a segunda
maior safra do país, superada apenas pelos 6,0 milhões do ano anterior. Também
não foi possível lançar mão de exportações, como ocorreu com a safra de 2003
quando o Brasil exportou 1,3 milhão de toneladas, fato inédito.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1 projetou em março o volume recorde de 624,0 milhões
de toneladas para a produção mundial de 2004/05, 13% superior à do ano anterior.
Estão previstos aumentos em todos os países grandes exportadores. Da mesma
forma, a produção nos principais países importadores deverá crescer. O resultado
projeta leve redução no volume de comércio mundial de trigo, de 109,5 milhões de
toneladas em 2003/04 para 108,3 milhões de toneladas em 2004/05.
A intenção de redução da área a ser cultivada em 2005 - o plantio, de acordo com
as recomendações técnicas, pode se iniciar em março nos Estados de São Paulo e
Mato Grosso do Sul e em algumas regiões do Paraná - está se revertendo. Isto se
deve a alterações no comportamento de alguns parâmetros, a começar pela taxa de
câmbio que voltou a crescer e está influenciando os preços do produto
remanescente da safra passada (figura 1).
Os preços do trigo argentino, principal origem das importações brasileiras, também estão em recuperação. De US$ 121 a tonelada, em meados de fevereiro, evoluíram para US$ 136/t em meados de março, FOB-Up-River. Com cerca de 70% do excedente exportável comprometido, a oferta argentina vai diminuindo e os
preços poderão subir mais, mesmo porque ainda estão abaixo dos praticados na
temporada anterior na mesma época.
Em São Paulo, na região do Médio Vale do Paranapanema, a principal produtora de
trigo do Estado, estima-se que já tenha sido plantado cerca de 80% da área de
cultivo esperada para o milho safrinha. Esta cultura ganhou do trigo na
competição por área na região no cultivo de inverno e hoje representa 41% da
produção de milho safrinha do Estado.
Para 2005, também deve ser esse o principal fator impeditivo do crescimento da área cultivada com trigo. Nas outras regiões onde o trigo tem importância, principalmente as abrangidas pelos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Avaré e Itapeva, é possível que ocorra expansão das áreas cultivadas com trigo e triticale. Nessas localidades, o milho safrinha não tem a mesma importância, por apresentar maior risco decorrente de geadas (a época mais indicada para o plantio do milho safrinha expira no final de março) e por serem essas culturas as opções de inverno mais tradicionais da região, para as quais são melhores as estruturas produtivas e de comercialização.2
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1 USDA: www.usda.gov
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-19/2005
Data de Publicação: 05/04/2005
Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor