Artigos
Fertilizantes: estimativa de diminuição das entregas em 2005
A
previsão inicial do setor de fertilizantes para 2005 - considerando as entregas
realizadas em janeiro e fevereiro do corrente ano - é de que o consumo
brasileiro decresça 5,0% em relação ao ano anterior (redução de cerca de 1,0
milhão de toneladas), perfazendo em torno de 20 milhões de toneladas. Esta
previsão tem como fundamento o forte declínio nas cotações das principais
commodities, embora seus preços tenham retomado discreta tendência de
valorização após a confirmação de substancial quebra de colheita das lavouras
abrangidas pela grande área que abrange Vale do Paranapanema paulista, Sul do
Mato Grosso do Sul, Oeste e Centro-Norte paranaenses e os Estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. TABELA 1 - Relações de Trocas1 de Fertilizantes e Produtos Agrícolas Selecionados,
Região Centro-Sul, 2001-2004
Também o Paraguai foi duramente afetado pela estiagem, que reduziu sobremaneira
as produções esperadas de milho e soja. O mercado reconheceu tais perdas e as
cotações passaram a incluir esse fato nas transações futuras.
Após atingir quantidade recorde de vendas de fertilizantes em 2003, as entregas
de fertilizantes ao consumidor final permaneceram praticamente estáveis em 2004
(decréscimo de 0,13% em relação ao ano anterior), perfazendo o total de 22,767
milhões de toneladas de produto, embora se tenha observado discreto crescimento
quando a contabilidade foi efetuada em termos de nutrientes.
Os principais fatores que contribuíram para essa estabilidade foram: a) relações
de troca para aquisição de fertilizantes mais desfavoráveis para diversas
culturas como milho, soja, laranja, trigo, cana-de-açúcar e feijão (tabela 1);
b) menor consumo de fertilizantes por unidade de área; c) retração na área
plantada de milho na safra 2004/2005, em relação à safra anterior; d) queda nos
preços recebidos pelos produtores de várias culturas, especialmente da soja, a
principal cultura demandadora de fertilizantes; e e) manutenção da pressão
altista nas cotações dos nutrientes no mercado internacional, principalmente
aqueles derivados do petróleo (nitrogenados).
Produto | Unidade | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 |
Algodão | @ | 42,0 | 42,3 | 33,4 | 37,1 |
Arroz | sc.60kg | 24,2 | 21,3 | 18,4 | 20,4 |
Batata | sc.60Kg | 9,2 | 11,6 | 12,7 | 16,4 |
Café | sc.60kg | 3,7 | 4,0 | 3,7 | 3,6 |
Cana-de-açúcar | t | 17,2 | 18,4 | 20,4 | 27,3 |
Feijão | sc.60kg | 5,6 | 5,2 | 5,7 | 7,8 |
Laranja de mesa | cx. 40,8 kg | 45,5 | 39,3 | 45,5 | 63,6 |
Milho | sc.60kg | 42,1 | 30,8 | 32,7 | 43,4 |
Soja | sc.60Kg | 18,8 | 15,6 | 15,5 | 17,6 |
Trigo | sc.60kg | 27,1 | 21,5 | 21,7 | 29,5 |
1Quantidade de produto agrícola necessária para
adquirir 1 tonelada de fertilizante.
Fonte: Associação Nacional para Difusão de Adubos - ANDA (www.anda.org.br)
De acordo com o critério de regionalização para o Brasil do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas, no Estado de São Paulo (SIACESP)1, constatou-se em 2004, comparado ao ano anterior,
decréscimo de 2,0% das entregas de fertilizantes ao consumidor final na Região
Centro, principal consumidora. A menor comercialização ocorreu na maioria dos
estados, com exceção de Paraná, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Tocantins
(tabela 2).
Mato Grosso respondeu pela maior quantidade das entregas de fertilizantes em
2004, ou seja, 4,125 milhões de toneladas de produto, com retração de 2,8% em
relação ao ano anterior. O Estado representa 18,1% das entregas, seguido de
Paraná (13,8%), São Paulo (13,6%), Rio Grande do Sul (12,4%), Minas Gerais
(12,0%), Goiás (9,3%) e Bahia (5,7%) (tabela 2).
TABELA 2 – Entregas de fertilizantes ao consumidor final, por Região e Estado, Brasil, 2002-2004
Região e Estado | 2002 (a) | 2003 (b) | 2004 (c) | Variação (%) (c/b) |
Região Sul | ||||
Rio Grande do Sul | 2.349.530 | 2.646.150 | 2.826.288 | 6,8 |
Santa Catarina | 597.963 | 663.950 | 639.693 | -3,7 |
Subtotal | 2.947.493 | 3.310.100 | 3.465.981 | 4,7 |
Região Centro | ||||
Distrito Federal | 55.586 | 60.988 | 56.721 | -7,0 |
Espírito Santo | 267.161 | 222.911 | 232.091 | 4,1 |
Goiás | 1.754.184 | 2.165.259 | 2.117.464 | -2,2 |
Mato Grosso | 3.167.294 | 4.245.324 | 4.125.449 | -2,8 |
Mato Grosso do Sul | 847.214 | 1.127.645 | 1.135.902 | 0,7 |
Minas Gerais | 2.387.234 | 2.758.470 | 2.726.630 | -1,2 |
Paraná | 2.512.515 | 3.087.194 | 3.146.374 | 1,9 |
Rio de Janeiro | 46.569 | 58.458 | 44.322 | -24,2 |
São Paulo | 3.151.215 | 3.295.939 | 3.090.876 | -6,2 |
Tocantis | 97.293 | 162.642 | 173.014 | 6,4 |
Subtotal | 14.286.265 | 17.184.830 | 16.848.843 | -2,0 |
Região Nordeste | ||||
Alagoas | 214.236 | 257.234 | 225.873 | -12,2 |
Bahia | 988.778 | 1.155.215 | 1.294.322 | 12,0 |
Ceará | 25.963 | 34.152 | 33.497 | -1,9 |
Maranhão | 183.214 | 248.639 | 302.189 | 21,5 |
Paraíba | 43.512 | 50.871 | 47.473 | -6,7 |
Pernambuco | 168.996 | 201.500 | 187.383 | -7,0 |
Piauí | 63.371 | 93.284 | 108.768 | 16,6 |
Rio Grande do Norte | 47.099 | 54.634 | 47.719 | -12,7 |
Sergipe | 24.193 | 36.612 | 13.118 | -64,2 |
Subtotal | 1.759.362 | 2.132.141 | 2.260.342 | 6,0 |
Região Norte | 121.148 | 169.161 | 192.323 | 13,7 |
Brasil | 19.114.268 | 22.796.232 | 22.767.489 | -0,1 |
Fonte: Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA-BRASIL), ANDA, SIACESP, Sindicato da Indústria de Adubos do Rio Grande do Sul (SIARGS) e Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos do Nordeste (SIACAN)
A comercialização de fertilizantes em 2004 seguiu o padrão sazonal, com a concentração das vendas no segundo semestre, simultaneamente ao plantio das culturas de verão, que receberam 64,5 % do total entregue (figura 1). O setor teme que ocorra intensificação do ciclo sazonal em 2005, reflexo do adiamento das aquisições dos produtores que aguardam a formação de cenários mais consistentes para as cotações das commodities na safra 2005/06. Caso confirmado esse fato, podem ocorrer dificuldades para atender a pedidos e o encarecimento do custo dos fretes, pressionando ainda mais os custos de produção para a próxima safra.
Figura 1 - Fertilizantes entregues ao consumidor final, Estado de São Paulo e Brasil, Janeiro de 2002 a Dezembro de 2004
Fonte: AMA-BRASIL, ANDA, SIACESP, SIARGS e SIACAN
Em 2004, a produção da indústria nacional de produtos intermediários para
fertilizantes foi de 9,611 milhões de toneladas de produto, quantidade 4%
superior ao registrado no ano precedente. Observaram-se, assim, incrementos nas
quantidades produzidas, em termos de nutrientes, dos fertilizantes nitrogenados
(8,6%) e fosfatados (5%) e decréscimo nas dos potássicos (1,5%).
No caso das matérias-primas para fertilizantes, constatou-se maior produção de
amônia, rocha fosfática industrial e ácido fosfórico. Também cresceram, no
referido período, as importações brasileiras de fertilizantes (5%). O cloreto de
potássio foi o principal produto importado, respondendo por 41,5 % do total,
seguido de fosfato mono-amônio-MAP (14,0%), uréia (11,3%) e sulfato de amônio
(10,1%).
No primeiro bimestre de 2005, foi fraco o desempenho do mercado. Segundo fontes
do setor, as entregas de fertilizantes no País apresentaram decréscimo de 10,5%,
em relação a igual período do ano anterior, totalizando 2,075 milhões de
toneladas de produto. Também, a produção da indústria nacional apresentou queda
de 12,2% no referido período, quando foi produzido 1,246 milhão de toneladas,
enquanto as importações de fertilizantes mostraram retração de 42,8%.
Quanto à disponibilidade de fertilizantes para a próxima safra, o segmento
encontra-se com volumes elevados, pois já acumula estoques 66% maiores do que no
ano anterior, embora tenha havido queda nas importações. Efetuado o balanço, a
disponibilidade para 2005 é 7,7% maior do que a observada em 2004. Porém, isto
não deve ser entendido como possibilidade de queda dos preços para o insumo,
pois a cotação do petróleo continua pressionada e a demanda de outros países não
arrefeceu. 2
TABELA 3 – Disponibilidade interna de fertilizantes, Brasil, 2004-05
Item | | (%) | |
| | ||
Estoque inicial | 2.473 | 4.104 | |
Produção Nacional | 1.421 | 1.246 | |
Micronutrientes | 47 | 35 | |
Importações | 2.267 | 1.295 | |
Disponibilidade | 6.204 | 6.682 | |
Exportações | 87 | 65 | |
Entregas | 2.486 | 2.075 | |
Quebras/perdas | 67 | 60 | |
Estoque Final | 3.564 | 4.482 | |
Fonte: Palestra proferida por Eduardo Daher – ABMR&A, 30/03/2005.
1 SIACESP: http://siacesp.com.br
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-21/2005
Data de Publicação: 05/04/2005
Autor(es):
Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor