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Café: confirmação de escassez sustenta forte alta
A maior demanda por parte dos importadores e dos fundos de investimento nas
bolsas internacionais acelerou o aumento das cotações do café nos diferentes
mercados de futuros.
No gráfico 1, é possível verificar o comportamento das cotações nos últimos 26
meses, com destaque para os últimos três meses da série. Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes
mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a
2005
Em fevereiro, as cotações do produto continuaram em alta na Bolsa de Nova
Iorque, com a cotação média do café arábica (Contrato C, segunda posição)
aumentando 11,94% em relação à média de janeiro. No mercado de café robusta da
Bolsa de Londres, para a segunda posição, o aumento foi ainda maior (14,80%). No
mercado de futuros da BM&F, para a segunda posição, o preço do arábica subiu
12,41%. Considerando o indicador OIC-Composto diário, a alta foi de 12,66% em
relação à média de janeiro.
Fonte: Gazeta Mercantil
Também em fevereiro, a cotação exibida pela BM&F esteve um pouco mais
pressionada do que a da Bolsa de Nova Iorque. A valorização cambial explica
parcialmente esse resultado. De fato, a menor disponibilidade de café fez com
que os produtores reduzissem o fluxo de comercialização do produto. O objetivo
era o de especular com melhor remuneração mais adiante, trazendo,
conseqüentemente, reflexos na vazão de produto para o exterior.
As cotações dos cafés arábicas, contrato C, para maio, na Bolsa de Nova Iorque,
exibiram crescimento ao longo do mês, com média de cerca de 11,94% maior do que
a cotação média de janeiro (gráfico 2). Nesse período, o diferencial de preço
entre o café arábica cotado na BM&F e o Contrato C na Bolsa de Nova Iorque
foi de US$ 12,08 por saca, cerca de 6,81% a mais do que o observado no mês de
janeiro de 2004.
Gráfico 2 - Cotações diárias em fevereiro de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição
Fonte: Gazeta Mercantil
A evolução dos preços do café nos diferentes mercados nos últimos doze meses,
cotados em dólar por saca, indica que a variação na BM&F, para o arábica
segunda posição, foi de 72,25%; em 2005, atingiu uma variação de 18,26%. No
mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição,
cresceram 55% nos últimos doze meses e 14,62% em 2005. Já os preços do robusta
no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada nos últimos
doze meses de 12,29% e de 10,63% em 2005. A estimativa do OIC-Composto
apresentou crescimento acumulado de 49,56% em doze meses e de 15,80% no ano de
2005, fortemente influenciado pelos preços do arábica.
Essas variações nas cotações indicam que o produto se encontra em expressivo
ciclo de alta, como pode ser observado pelo gráfico 3, onde as cotações do café
arábica se encontram em nível superior ao verificado em 2000, o último ano do
último ciclo de alta do produto.
Gráfico 3 - Cotações médias anuais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2000 a 2005
Fonte: IEA
O cafeicultor paulista também foi favorecido pelas altas observadas no mercado internacional. O preço médio de fevereiro aumentou 5,51% em relação ao preço médio observado em janeiro. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, aponta para uma alta acumulada no ano de 45,05% e de 14,67% somente em 2005(gráfico 4).
Gráfico 4 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002/05
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Procurou-se avaliar a evolução dos preços médios anuais recebidos pelos
produtores de café no Estado de São Paulo, no período de 2000 a 2005. Este
último ano se refere à média dos meses de janeiro e fevereiro, tanto em valores
nominais quanto em valores reais, utilizando-se como deflator o IPCA-IBGE.
Assim, verifica-se que as médias de 2005 se situaram, em valores reais, acima
das observadas em 2000, indicando que os cafeicultores paulistas estão recebendo
(quanto?) pela primeira vez nos últimos 6 anos (gráfico 5).
Esse retorno de preços remuneradores, que gera aumento de rentabilidade para o setor, é um forte
estímulo a novo ciclo de investimentos, tanto na recuperação das culturas
existentes quanto na renovação e expansão da área plantada com café em São Paulo
e no Brasil.
Gráfico 5 - Preços médios anuais (nominais e real) recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2000/05
Fonte: IEA
Ciclo de negócios reencontra com o de investimentos
Após cinco anos em que os preços da commodity apenas compensavam os custos com a
lavoura, as cotações que vigoram nos principais mercados sinalizam com a
possibilidade de recapitalização e de retomada dos investimentos na produção de
café. Esse fato permitirá lastro para decisões como irrigar, colher
mecanicamente, renovar a frota de máquinas e recuperar equipamentos de preparo
(terreiro, secadores, tulhas).
Os investimentos mencionados podem incrementar a produtividade dos fatores e
aumentar a competitividade do produto brasileiro. Também poderão facilitar a
obtenção de grãos com qualidade superior, facilitando o trabalho que ainda não
foi concluído que é o de consolidar a imagem de fornecedor de cafés em volumes e
qualidades desejadas pelos principais clientes internacionais. Outros produtores
estão partindo para a expansão da área plantada com café, gerando pressão sobre
os viveiristas de muda, cujas cotações estão crescendo nas diferentes regiões
cafeeiras do país.
Ainda que o momento seja propício para a retomada dos investimentos, sempre é
importante frisar a necessidade de análises econômicas que validem o projeto.
Lamentavelmente, é freqüente que cafeicultores se lancem às compras de bens de
capital sem o devido cuidado quanto ao retorno econômico e às possibilidades de
incremento das receitas, tornando o investimento em apenas mais um custo a
depreciar.
Exportações no primeiro bimestre
As informações preliminares sobre as exportações no primeiro bimestre apontam para crescimento tanto no volume embarcado quanto, sobretudo, na receita cambial apurada. As estimativas do segmento indicam que o volume de café verde alcançou 3,5 milhões de sacas no bimestre, com crescimento de 16% frente ao período anterior. Por sua vez, a receita poderá aumentar em até 50%, refletindo as cotações que o mercado vem praticando para o produto.
Prorrogação do pagamento das dívidas
A pressão das lideranças do segmento pela prorrogação das dívidas ainda não alcançou êxito. Levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1 aponta para financiamentos
vencidos dos cafeicultores em torno dos R$ 536 milhões, dos quais apenas 27%
representam custeio das últimas três safras (o restante foi aplicado em
estocagem). Portanto, menos de R$ 150 milhões representam o endividamento em
atraso dos cafeicultores, montante esse passível de decisão favorável por parte
do Ministério da Fazenda, que, porém, já sinalizou ser contrário a
proposição.
Por outro lado, ocorreu a prorrogação das dívidas dos produtores rurais com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)2, caso a caso, constituindo-se em mais uma decisão favorável ao agronegócio. Esse posicionamento da autoridade monetária do governo federal poderá atingir também aos cafeicultores, dando-lhes fôlego necessário para retomar os investimentos nas lavouras que estiveram, em geral, represados desde o início do ciclo de queda nas cotações do produto. 3
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1 MAPA: www.agricultura.gov.br
2 BNDES:www.bndes.gov.br
3 Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-13/2005
Data de Publicação: 09/03/2005
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor