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Commodities: recuperação das cotações dos grãos em fevereiro
Em
fevereiro, nove das dez commodities analisadas apresentaram crescimento de preço
nos mercados futuros e somente o algodão fechou o mês em queda. Mas, quando se
analisa o acumulado de 12 meses, verifica-se que grãos e fibras continuam com
fortes variações negativas, casos de algodão, soja, milho e trigo. Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos
diferentes mercados futuros, segunda posição, fevereiro de 2005 e o acumulado em
12 meses (em percentagem) A
estiagem que está ocorrendo na Argentina, no Paraguai e no Brasil (regiões Sul,
Sudeste e Centro-oeste) deve reduzir a produção esperada de soja, com início de
recuperação das cotações do produto nos mercados de futuros que se deverá
confirmar nos próximos meses. Os preços do algodão caíram em função da safra
recorde dos norte-americanos e de um mercado internacional superofertado. Já o
milho, mesmo com a supersafra dos países do Hemisfério Norte, ensaiou leve
recuperação das cotações em função da maior demanda americana para produção de
etanol. E as cotações do trigo tiveram recuperação em fevereiro, devido a um
aquecimento do mercado internacional e à indicação de alta das cotações da soja.
Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
Assim, a reversão das tendências em fevereiro não alterou as expectativas ao
longo de doze meses, que é o que vem sendo observado no mercado de futuros desde
o último trimestre de 2004. Na tabela 1, são apresentados os resultados da
análise das cotações externas das principais commodities agrícolas, com base nas
cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega,
negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar,
café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta
em Londres e do boi na BM&F.
Fonte: Elaborado pelo IEA a
partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F Açúcar Algodão Café arábica Café robusta Suco Laranja CC Soja grão Milho Trigo Borracha SM20 Boi
Para o suco de laranja, as cotações médias subiram 4,55% em fevereiro, em função do clima desfavorável na Flórida e da menor oferta de laranja no Estado de São Paulo, e a tendência é de continuarem em alta. Já a maior demanda internacional por açúcar, superior à oferta, continua a pressionar as cotações do produto no mercado internacional, que apresentou a maior alta das cotações médias dos dez produtos analisados no acumulado de doze meses. Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
O café arábica confirmou a tendência de alta, sustentada pelo déficit mundial devido à menor oferta do Brasil e demais produtores latino-americanos. As cotações médias em fevereiro fecharam com 11,95% de aumento e acumulam alta de 55% em doze meses, tornando o arábica o produto com o segundo maior crescimento (tabela 1). Ao mesmo tempo, a menor oferta de café robusta no mercado internacional provocou forte alta em fevereiro nas cotações médias, que atingiram 14,80%, iniciando um fase de recuperação das cotações do produto no mercado de futuros de Londres. A expectativa é de manutenção da tendência de alta das cotações do café arábica em Nova York e o início de recuperação das cotações do robusta na bolsa de Londres, como pode ser observado nos gráficos abaixo:
As cotações da borracha natural encontram-se em ascensão em 2005, com crescimento de 4,93% em fevereiro, mas continuam com tendência indefinida no acumulado de 12 meses, o que deve compensar em parte a valorização do real, permitindo uma recuperação dos preços recebidos pelos produtores brasileiros no primeiro semestre. Por outro lado, as cotações médias do boi em fevereiro na BM&F apresentaram leve alta de 3,01%, revertendo a queda que se verificava desde novembro de 2004, devido à intensificação das exportações e à valorização do real. O comportamento das cotações dos dois produtos pode ser observado nos seguintes gráficos:
Ao
considerar a valorização do real nos últimos 12 meses, verifica-se um valor da
ordem de 22,43%, com impacto nas exportações de commodities agrícolas do país, o
que traz apreensões e expectativa de prejuízos para o setor. Além disso, no caso
de grãos e fibras, têm-se de considerar a queda nas cotações internacionais e as
perdas pelo intenso veranico que vem atingindo os estados de Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, comprometendo as
produtividades esperadas. Neste contexto, está surgindo forte mobilização do
setor nas reivindicações de políticas públicas anticíclicas, no sentido de
amenizar as perdas e permitir que os produtores possam ter condições de
continuar na atividade.
Em função da mobilização dos produtores e de suas organizações, o Governo Federal1 iniciou a implementação de medidas visando dar suporte ao setor para enfrentar a crise que se avoluma com os efeitos da estiagem que atinge metade das áreas de plantio da safra de verão do ano agrícola 2004/05. Entre elas, podem citar-se: prorrogação das dívidas de investimento que vencem neste ano, consideradas caso a caso; autorização da prorrogação por 30 dias para o algodão e de três meses para o trigo dos créditos de custeio vencidos e a vencer; e liberação de R$ 3,00 bilhões para financiar a comercialização da safra, dos quais R$ 1,90 bilhão com juros de 8,75% ao ano, incluindo os produtores de soja
como beneficiados com o Empréstimo do Governo Federal (EGFs), e outros R$ 1,60
bilhão a taxas de juros livres e de crédito rural, dependendo da evolução dos
depósitos à vista.
As decisões tomadas nessa primeira rodada de negociações ainda estão aquém das necessidades do setor, principalmente para os produtores da região Sul que têm sofrido perda de até 50% nas suas colheitas de milho e soja, necessitando, portanto, de novas medidas para aliviar a crise na produção de grãos e fibras no Brasil, nesta safra. 2
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1 Medidas implementadas pelo MAPA (02/03/2005) (www.agricultura.gov.br)
2 Artigo registrado no
CCTC-IEA sob número HP-14/2005
Data de Publicação: 09/03/2005
Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor