Commodities: recuperação das cotações dos grãos em fevereiro

            Em fevereiro, nove das dez commodities analisadas apresentaram crescimento de preço nos mercados futuros e somente o algodão fechou o mês em queda. Mas, quando se analisa o acumulado de 12 meses, verifica-se que grãos e fibras continuam com fortes variações negativas, casos de algodão, soja, milho e trigo.
            Assim, a reversão das tendências em fevereiro não alterou as expectativas ao longo de doze meses, que é o que vem sendo observado no mercado de futuros desde o último trimestre de 2004. Na tabela 1, são apresentados os resultados da análise das cotações externas das principais commodities agrícolas, com base nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, fevereiro de 2005 e o acumulado em 12 meses (em percentagem)
 

Commodities
Mercado
Fevereiro 2005
Acumulado 2005 
Acumulado 12 meses
Açúcar
NY
1,17
3,57
58,75
Algodão
NY
-0,29
7,45
-33,18
Café arábica
NY
11,95
14,62
55,00
Café robusta
Lo
14,80
10,63
12,29
Suco Laranja CC
NY
4,55
3,40
37,82
Soja grão
CHT
2,71
0,01
-37,17
Milho 
CHT
0,30
-0,34
-27,94
Trigo
CHT
0,66
0,95
-20,49
Borracha SM20
Malásia
4,93
6,88
0,56
Boi
BM&F
3,01
-0,66
13,29
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            A estiagem que está ocorrendo na Argentina, no Paraguai e no Brasil (regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste) deve reduzir a produção esperada de soja, com início de recuperação das cotações do produto nos mercados de futuros que se deverá confirmar nos próximos meses. Os preços do algodão caíram em função da safra recorde dos norte-americanos e de um mercado internacional superofertado. Já o milho, mesmo com a supersafra dos países do Hemisfério Norte, ensaiou leve recuperação das cotações em função da maior demanda americana para produção de etanol. E as cotações do trigo tiveram recuperação em fevereiro, devido a um aquecimento do mercado internacional e à indicação de alta das cotações da soja. Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

 


            Para o suco de laranja, as cotações médias subiram 4,55% em fevereiro, em função do clima desfavorável na Flórida e da menor oferta de laranja no Estado de São Paulo, e a tendência é de continuarem em alta. Já a maior demanda internacional por açúcar, superior à oferta, continua a pressionar as cotações do produto no mercado internacional, que apresentou a maior alta das cotações médias dos dez produtos analisados no acumulado de doze meses. Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            O café arábica confirmou a tendência de alta, sustentada pelo déficit mundial devido à menor oferta do Brasil e demais produtores latino-americanos. As cotações médias em fevereiro fecharam com 11,95% de aumento e acumulam alta de 55% em doze meses, tornando o arábica o produto com o segundo maior crescimento (tabela 1). Ao mesmo tempo, a menor oferta de café robusta no mercado internacional provocou forte alta em fevereiro nas cotações médias, que atingiram 14,80%, iniciando um fase de recuperação das cotações do produto no mercado de futuros de Londres. A expectativa é de manutenção da tendência de alta das cotações do café arábica em Nova York e o início de recuperação das cotações do robusta na bolsa de Londres, como pode ser observado nos gráficos abaixo:

            As cotações da borracha natural encontram-se em ascensão em 2005, com crescimento de 4,93% em fevereiro, mas continuam com tendência indefinida no acumulado de 12 meses, o que deve compensar em parte a valorização do real, permitindo uma recuperação dos preços recebidos pelos produtores brasileiros no primeiro semestre. Por outro lado, as cotações médias do boi em fevereiro na BM&F apresentaram leve alta de 3,01%, revertendo a queda que se verificava desde novembro de 2004, devido à intensificação das exportações e à valorização do real. O comportamento das cotações dos dois produtos pode ser observado nos seguintes gráficos:

            Ao considerar a valorização do real nos últimos 12 meses, verifica-se um valor da ordem de 22,43%, com impacto nas exportações de commodities agrícolas do país, o que traz apreensões e expectativa de prejuízos para o setor. Além disso, no caso de grãos e fibras, têm-se de considerar a queda nas cotações internacionais e as perdas pelo intenso veranico que vem atingindo os estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, comprometendo as produtividades esperadas. Neste contexto, está surgindo forte mobilização do setor nas reivindicações de políticas públicas anticíclicas, no sentido de amenizar as perdas e permitir que os produtores possam ter condições de continuar na atividade.
           Em função da mobilização dos produtores e de suas organizações, o Governo Federal1 iniciou a implementação de medidas visando dar suporte ao setor para enfrentar a crise que se avoluma com os efeitos da estiagem que atinge metade das áreas de plantio da safra de verão do ano agrícola 2004/05. Entre elas, podem citar-se: prorrogação das dívidas de investimento que vencem neste ano, consideradas caso a caso; autorização da prorrogação por 30 dias para o algodão e de três meses para o trigo dos créditos de custeio vencidos e a vencer; e liberação de R$ 3,00 bilhões para financiar a comercialização da safra, dos quais R$ 1,90 bilhão com juros de 8,75% ao ano, incluindo os produtores de soja como beneficiados com o Empréstimo do Governo Federal (EGFs), e outros R$ 1,60 bilhão a taxas de juros livres e de crédito rural, dependendo da evolução dos depósitos à vista.
            As decisões tomadas nessa primeira rodada de negociações ainda estão aquém das necessidades do setor, principalmente para os produtores da região Sul que têm sofrido perda de até 50% nas suas colheitas de milho e soja, necessitando, portanto, de novas medidas para aliviar a crise na produção de grãos e fibras no Brasil, nesta safra. 2
 

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1 Medidas implementadas pelo MAPA (02/03/2005) (www.agricultura.gov.br)
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-14/2005


 

 

Data de Publicação: 09/03/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor