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Máquinas Agrícolas: inversão de tendência
Findou a euforia. Durante os últimos quatro anos encerrados em 2004, a regra consistiu em festejar o invejável desempenho exibido pelo segmento de máquinas agrícolas automotrizes, ou seja, crescimento, respectivamente, de 13,8% e de 15,8% na produção e nas vendas (tabela 1). TABELA 1 - Produção, vendas e exportação de máquinas agrícolas automotrizes, Brasil, 2002 a 2004 A criação e implementação do programa MODERFROTA, passando pela securitização das dívidas dos agricultores e ainda pela estupenda alavancagem das cotações das commodities, formou, sem dúvida, os alicerces que impulsionaram os negócios das montadoras. Estabeleceu-se, assim, no País um verdadeiro pólo de atração para os novos investimentos em escala produtiva e em tecnologia para o segmento de máquinas agrícolas automotrizes. Avanço na faixa de potência No Brasil, tem havido substancial aumento da participação das máquinas com maior potência no conjunto das vendas. Essa tendência ficou ainda mais evidente nos dois últimos anos, em que se observa queda no número de unidades comercializadas na faixa de 50CV a 99CV, com relativa estabilidade das transações envolvendo máquinas na faixa de 100CV a 199CV (figura 1). Figura 1 – Número de unidades comercializadas no mercado interno por faixa de potência, Brasil, 1999 a 2004
1 Emprego refere-se a dezembro Item Unidade . Trator de roda Produção Vendas no mercado interno Nacionais Importados Exportação Total das vendas Colheitadeiras Produção Vendas no mercado interno Nacionais Importados Exportação Total das vendas Cultivadores Motorizados Produção Vendas no mercado interno Nacionais Importados Exportação Total das vendas Tratores de esteiras Produção Vendas no mercado interno Nacionais Importados Exportação Total das vendas Retroescavadeiras Produção Vendas no mercado interno Nacionais Importados Exportação Total das vendas Máquinas agrícolas (total) Produção Vendas no mercado interno Nacionais Importados Exportação Total das vendas Emprego 1 Receita Cambial
Fonte: ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (http://www.anfavea.com.br)
Esse fato, paulatinamente, credenciou o segmento enquanto relevante player no mercado mundial desses equipamentos, ainda que beneficiados pela significativa desvalorização da moeda brasileira. Entretanto, no segundo semestre de 2004 e com maior ênfase em 2005, verifica-se uma reversão nos componentes desse cenário. Em primeiro lugar, ocorre declínio nos preços das principais commodities, seguido de valorização da moeda e de expressivo aumento nos custos de produção da indústria, capitaneado pelo preço do aço e dos pneumáticos.
Os dados mais recentes demonstram a assertiva. Em janeiro de 2005, as vendas de máquinas no mercado interno foram 29,1% menores que as observadas no mesmo mês do ano anterior, embora tenham repetido o volume comercializado (somando-se as exportações) em dezembro de 2004 (1,7 mil máquinas). Houve pequeno aumento nas exportações (2,7%), que reflete muito mais o cumprimento de contratos celebrados em momento anterior.
Isto tenderá a refletir, nos próximos meses, o mesmo comportamento observado para as vendas no mercado interno, uma vez que a trajetória de apreciação cambial do real se fortaleceu. Enquanto perspectivas para 2005, estimativas do segmento apontam para uma retração de 10% nas vendas.
Se, pelo lado do agronegócio, as transações envolvendo máquinas agrícolas devem arrefecer, no segmento de infra-estrutura, demandante por máquinas de esteira e retroescavadeiras, o corrente ano poderá garantir a retomada das vendas no mercado interno com a dinamização dos negócios, uma vez que os referidos equipamentos apresentaram incremento de vendas próximo aos 50% em 2004 (tabela 1).
Da provável queda nas vendas de máquinas agrícolas, não se deve concluir que o faturamento das empresas seguirá a mesma direção. O maior conteúdo tecnológico dos equipamentos e o seu maior porte implicam em valores mais elevados e, conseqüentemente, patamares de faturamento não proporcionais à diminuição das vendas. Ademais, as maiores vendas de máquinas para o segmento de infra-estrutura, bem como para os setores de cana-de-açúcar, café e laranja, poderão fornecer oxigênio adicional às montadoras.
Fonte: ANFAVEA
Uma maior faixa de potência dos equipamentos utilizados na condução das lavouras reflete-se em aumento de produtividade por hora máquina e em diminuição dos custos unitários. Essa tendência coaduna-se com o crescimento da escala das lavouras, notadamente, aquelas instaladas na vastidão dos cerrados, sendo portanto um fenômeno legitimador dos ganhos de eficiência do agronegócio.
Novo desencontro entre ciclo de negócios e investimentos
Os segmentos de grãos e fibras ressentem-se de substancial queda em suas cotações, enquanto cana-de-açúcar, café e frutas concorrem na valorização de seus produtos. Esse momento ocorre em paralelo com o início do vencimento das primeiras parcelas de financiamento contratadas em âmbito do MODERFROTA, podendo ocasionar inadimplemento de produtores especializados em grão e fibras.
Poderá surgir forte tensão no setor, a menos que haja uma política pública de amparo aos produtores que não provisionaram recursos suficientes para honrar os compromissos, ou que ainda carregam parcelas de outros financiamentos contratados no passado. 1
1 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-10/2005
Data de Publicação: 23/02/2005
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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