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Consumo Estável E Estoque Elevado Pressionam Preços De Algodão
O
mercado mundial de algodão, no período de 1997/98 a 2000/01, foi caracterizado
por níveis de consumo inferiores aos da oferta (estoque inicial mais produção),
gerando excedentes de, em média, 9,2 milhões de toneladas, o que correspondeu a
48,0% da produção, nível que pode ser considerado bastante elevado, conforme
apontam os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Figura1
Para a temporada 2001/02, as perspectivas não são diferentes, tendo em vista a
produção recorde prevista em 20,9 milhões de toneladas, 8,7% maior do que a da
passada. Acrescentando-se o estoque inicial, a oferta deve totalizar 29,4
milhões de toneladas, ou seja, 4,0% superior à da temporada anterior. Por outro
lado, o consumo deverá variar muito pouco, ou apenas 0,4% em comparação com o do
ano anterior, e ficar em 20,0 milhões de toneladas, resultando em estoque final
de 9,4 milhões de toneladas, o equivalente a 45,0% da produção (Figura 1).
A tendência do comércio mundial dessa fibra não foi constante no decorrer desses
anos. Contudo, em 2001/02, as exportações poderão ser ampliadas em 6,3% e
alcançar 6,1 milhões de toneladas, a maior quantidade do período considerado.
Neste item, destacam-se as prováveis exportações dos Estados Unidos, da ordem de
2,0 milhões de toneladas, 33,3% superior às da temporada passada, em reação ao
expressivo aumento de excedente no país, resultante da expansão de 16,8% na
produção e da queda de 6,7% no consumo interno. Mesmo assim, o estoque final
estadunidense deverá manter-se bastante elevado, em 1,9 milhão de toneladas, ou
seja, 46,7% maior do que o anterior e 124,7% superior ao nível médio verificado
entre 1997/98 e 1999/00.
Neste contexto, no mercado físico, o Índice A de Liverpool1, que já apresentava tendência decrescente durante 2000/01, passou a ser ainda mais pressionado, devendo atingir a marca historicamente baixa de US$39,69 centavos/libra-peso em outubro do corrente ano (Figura 2). Por sua vez, o mercado futuro de Nova York apresentou as seguintes cotações na primeira quinzena desse mês: de US$32,93 centavos/libra-peso para entrega em março, de US$33,92 centavos para maio e de US$35,00 centavos para julho de 2002, abaixo, portanto, do atual nível de preços no mercado disponível2.
Dadas as condições de mercado ditadas pela elevada oferta de algodão, as expectativas voltam-se para o desempenho econômico mundial e seus impactos sobre a demanda da fibra. O ritmo de expansão econômica decresceu de maneira expressiva na primeira metade de 2001, influenciando o consumo de algodão, sobretudo nos países industrializados, onde, inclusive, há forte concorrência com manufaturados têxteis provenientes das nações em desenvolvimento. Atualmente, considera-se que o menor ritmo de crescimento das economias estadunidense e européia poderá influenciar o consumo da fibra pelas nações exportadoras de manufaturas têxteis, onde metade do algodão processado é exportado na forma de produtos acabados3.
Essa característica não se aplica ao Brasil, que tem pequena participação no comércio mundial de têxteis. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC)4, as exportações brasileiras desses produtos, em
valores, representaram apenas 0,6% do total mundial em 1999, parcela não muito
diferente da observada em 1990, de 0,7%.
No Brasil, a produção de algodão alcançou 916,0 mil toneladas em 2000/01, com
aumento de 30,8% em comparação com a do ano passado, representando recorde dos
últimos vinte anos, período em que a produção caiu drasticamente. Por outro
lado, o consumo dá sinais de desaceleração no ritmo de crescimento verificado
nos últimos dois anos, tendo em vista que as 923,5 mil toneladas a serem
consumidas neste ano devem ficar 2,7% abaixo da cifra verificada no ano
anterior. Por sua vez, as exportações devem alcançar 140,0 mil toneladas, contra
apenas 28,5 mil toneladas do ano passado, segundo dados da Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB).
O balanço de oferta e demanda de algodão no Brasil caracteriza-se pelo
suprimento voltado quase que exclusivamente ao mercado doméstico, e como visto
anteriormente com fraca participação no comércio mundial de manufaturas. Assim,
pode-se considerar que a demanda interna tende a exercer maior influência sobre
o comportamento dos preços do que o crescimento das exportações e a
desvalorização cambial. Além disso, o fortalecimento do ritmo de exportação, que
seria uma alternativa ao escoamento da produção, poderá ser refreado tendo em
vista o quadro de superoferta do produto e o recrudescimento do impacto
recessivo no âmbito mundial.
Prova disso são as intenções de plantio que indicam redução de área de 11,8% a 17,3% no Brasil. No Paraná, por exemplo, a retração poderá ser de até 36%, em benefício da soja, commodity de elevada liquidez no
mercado externo. No Centro-Oeste, a redução da área deverá ocorrer em escala
menor (de 16,0% a 22%) por força dos elevados investimentos feitos pelos
empresários rurais, sobretudo em mecanização, segundo dados recentes da CONAB.
Assim, a exemplo do que ocorre no âmbito global, no Brasil o cenário também é
desfavorável à cotonicultura pelo menos no curto prazo, se mantida a atual crise
econômica.
Nesse sentido, a OMC divulgou recentemente previsão de aumento de apenas 2,0% no desempenho do comércio internacional em 2001. Essa taxa é bem mais modesta do que a prevista inicialmente, de 7,0%, cenário bastante diferenciado daquele de 2000, quando crescera 12%5.
1 O Índice A de Liverpool consiste de uma
média dos cinco menores preços de algodão CIF Norte da Europa.
2 Secretaria de
Agricultura, Ganadería, Pesca y Alimentación. Argentina. Boletin
Informativo Quincenal – Sector Algodonero, Edición Especial, Año XII,
15/10/01.
3
Op.cit., 04/10/01.
4 Dados coletados em www.wto.org, outubro
de 2001.
5
CHADE, J. OMC: trocas internacionais no máximo 2%. O Estado de São Paulo,
26/10/2001, p.B-4.
Data de Publicação: 07/11/2001
Autor(es):
Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor