Café: alta nas cotações arrefece em janeiro

            Em janeiro de 2005 as cotações do café arábica em diferentes mercados continuou em alta, porém com crescimento inferior ao observado nos meses de novembro e dezembro de 2004. Nesse mesmo mês as cotações do café robusta inverteram a tendência de alta e voltaram a cair. Esse comportamento do mercado reflete a menor oferta do café arábica para a temporada 2005/06, com reflexos nos estoques em queda dos países consumidores, e ao mesmo tempo no aumento da oferta de robusta, impulsionada pelo incremento nas exportações vietnamitas.
            Nesse mesmo mês, as cotações do produto continuaram em alta na Bolsa de Nova Iorque, em que a cotação média do café arábica (Contrato C, segunda posição) aumentou 2,39% em relação à média de dezembro de 2004. Já no mercado de robusta da Bolsa de Londres, para a segunda posição, a redução foi de 3,62%. No mercado de futuros da BM&F, segunda posição, o preço do café arábica subiu 5,20%, influenciado também pela valorização de 1,13% do real, no mês. Considerando o indicador OIC-Composto diário, a alta foi de 2,78% em relação à média de dezembro, impelida pela cotação do café arábica. No gráfico 1 é possível verificar o comportamento das cotações nos últimos 25 meses, com destaque para os últimos três meses da séria.

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a 2005

               Fonte: Gazeta Mercantil

            Também em janeiro de 2005, a cotação exibida pela BM&F esteve mais pressionada do que a da Bolsa de Nova Iorque. A valorização cambial explica parcialmente esse resultado. De fato, a menor disponibilidade de café fez com os produtores reduzissem o fluxo de comercialização do produto, com o objetivo de especular com melhor remuneração mais adiante, trazendo, conseqüentemente, reflexos na vazão de produto para o exterior.
            As cotações dos cafés arábicas, contrato C, para maio, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram forte flutuação ao longo do mês, com média de cerca de 2,39% maior que a cotação média de dezembro. Nesse período, o diferencial de preço entre o café arábica cotado na BM&F e o Contrato C na de Nova Iorque foi de US$ 11,31 por saca, cerca de 21,13% a menos do que o observado no mês de dezembro de 2004 (gráfico 2).

Gráfico 2 - Cotações diárias em janeiro de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição

                   Fonte: Gazeta Mercantil

            A evolução dos preços do café nos diferentes mercados nos últimos doze meses, cotados em dólar por saca, indica que a variação na BM&F, para o arábica segunda posição, foi de 56,77%. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 39,91% no período, enquanto os preços do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de -5,85%, em igual período. A estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 35,21% em doze meses, fortemente influenciado pelos preços do arábica. Essas variações nas cotações confirmam que o produto se encontra em novo ciclo de alta.
            O cafeicultor paulista também foi favorecido pelas altas observadas no mercado internacional. O preço médio de janeiro aumentou 8,68% em relação ao preço médio observado em dezembro do ano anterior. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em real, nos últimos 12 meses, aponta para uma alta acumulada no ano de 39,49% (gráfico 3).

Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002/05

               Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Balanço das exportações brasileiras de café

            Ao se efetuar um balanço das exportações brasileiras de café em 2004, frente à igual período do ano anterior, constata-se que ocorreu uma forte elevação no valor apurado (+31%) enquanto o volume embarcado apresentou apenas discreto aumento (+2,8%) (Tabela 1). Nos mais tradicionais itens da pauta do agronegócio café houve um substancial incremento nos valores apurados, e para o verde o crescimento foi de 32,3%, enquanto o solúvel alcançou 27,7%. Ambos aumentos ocorreram sem que fossem sidos observados ampliações significativas nos volumes embarcados, registrando-se modestos 1,8% para o verde e 11,8% para o solúvel (Tabela 1). Ao se averiguar esse fato, conclui-se que a melhoria contínua nas cotações do produto redundaram no crescimento dos valores apurados nas transações, beneficiando todos os agentes envolvidos no negócio. Embora o incremento das cotações tenham arrefecido em janeiro, essa tendência deve ser mantida, notadamente com a aproximação do chamado mercado do clima.

TABELA 1 - Volume e Valor das Exportações Brasileiras de Café, todos os tipos, 2003 e 2004

Item
Volume (em sc.60kg)
%
Valor (em 1.000 US$)
%
2003
2004
2003
2004
Café verde
22.793.412
23.215.780
1,8
1.301.672
1.722.169
32,3
Café T&M 
66.568
37.120
-44,2
7.927
6.233
-21,3
Café solúvel
2.847.626
3.183.957
11,8
225.306
287.784
27,7
Total
25.707.606
26.436.857
2,8
1.534.905
2.016.186
31,3
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos CECAFE.

            A grande frustração de 2004 ficou por conta do fracasso do esforço pela mobilização dos torrefadores brasileiros, para entrada no comércio exterior através das exportações de café T&M, que inclusive conta com programa especial de apoio ao desenvolvimento dessa nova linha de negócios. Estudos apontavam inúmeros efeitos benéficos dessa iniciativa: o produto industrializado conta com maior valor agregado unitário, a possibilidade de marcas brasileiras estarem presentes nas gôndolas dos supermercados do exterior, além dos inúmeros empregos que seriam gerados no país. Infelizmente, a apreciação do real, o encarecimento da matéria-prima e as dificuldades intrínsecas da opção exportadora impediram que a linha T&M apresentasse uma ampliação dos embarques. De qualquer modo, o aprendizado desse ano em que houve declínio nos negócios pode contribuir para a formalização de estratégias com maior grau de profissionalização e, conseqüentemente, de sucesso.

- Análise das reivindicações do lobby cafeeiro

            O esforço lobbysta em torno da política do café alcançou vitórias e derrotas no que diz respeito à indução de decisões do governo federal. A principal vitória foi a manutenção do Departamento do Café na Secretaria de Produção e Comercialização, contrariando a posição do ministro da Agricultura que era de transferir esse departamento para a Secretaria de Política Agrícola. Em termos práticos, a manutenção de um departamento específico para o café mantém canal direto para que as demandas do segmento alcancem a estrutura de decisão governamental. A sugerida transferência poderia, na percepção dos contrários a essa posição, juntar o café à vala comum de todo o resto da agricultura, enfraquecendo sua capacidade de influir nos rumos das políticas públicas para o setor.
            Embora tenha arregimentado grande apoio político para o pleito, o Ministério da Fazenda resiste em anuir quanto à solicitação de prorrogação dos pagamentos dos empréstimos de custeio e de comercialização. O setor assume abertamente que os financiamentos não serão pagos sem uma repactuação, configurando postura de desrespeito aos contratos, fato que impede o país de propiciar previsibilidade para os negócios e atração de novos investimentos produtivos.
            São praticamente nulas as possibilidades de o setor alcançar êxito na demanda pela criação de um fundo de aval específico para o segmento. A proposta reza que o fundo garantiria até 70% do valor do empreendimento dos cafeicultores, com a participação do governo federal, estados e municípios, sendo gerido pelo Conselho Deliberativo de Política Cafeeira. Em primeiro lugar, não é constitucional um ente federativo formular políticas que implique ônus para os demais entes federativos. Ademais, uma gestão 'semi-pública' do fundo mostra-se pouco razoável, pois todo empenho do governo é pelo fortalecimento e aprimoramento dos mecanismos de mercado para o financiamento e comercialização de produtos agrícolas, consistindo em contra-senso um consentimento quanto a essa solicitação.
            Infelizmente, a mais importante e almejada vitória que o setor cafeeiro ainda não alcançou, é a inclusão nos Contratos C para café brasileiro despolpado na Bolsa de Nova Iorque. Ao menos o grupo já está consciente da importância que a quebra do cartel colombiano e centro-americano representa para a cafeicultura brasileira. Os países concorrentes valem-se de todos os meios para impedir que o Brasil alcance o status de qualidade que faça jus ao café lavado do país. Ao longo de 2005, ocorrerão nos encontros na Bolsa de Nova Iorque e caso mantenha-se coesa a posição brasileira (inclusive respaldada pelas autoridades comerciais e diplomáticas do País), as possibilidades do surgimento dessa nova forma de comercialização gerarão novas oportunidades de investimentos no setor.

1 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-08/2005

Data de Publicação: 11/02/2005

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor