Commodities: comportamento em 2004 e Perspectivas para 2005

            Para o primeiro semestre de 2005, as cotações das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado internacional devem se comportar de forma semelhante à tendência observada no segundo semestre de 2004. Isto é, a tendência é de queda dos preços dos grãos (soja, milho e trigo) e do algodão, enquanto os mercados de açúcar, café e suco de laranja devem seguir com os preços elevados e com perspectivas de alta.
            Dezembro de 2004 manteve a tendência que caracterizou o segundo semestre do ano para as diferentes commodities nos mercados internacionais, que são exportadas e/ou importadas pelo Brasil. Na tabela 1, são apresentados os resultados da análise das cotações externas das principais commodities agrícolas, com base nas cotações médias dos contratos futuros de segunda posição de entrega, negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, dezembro de 2004 e ano 2004 (em percentagem)
 

Commodities
Mercado
Em dezembro
Ano 2004 
Açúcar
NY
2,08
41,91
Algodão
NY
1,28
-39,16
Café arábica
NY
13,76
58,06
Café robusta
Lo
8,27
18,52
Suco Laranja CC
NY
12,70
20,76
Soja grão
CHT
-0,48
-30,21
Milho 
CHT
-0,61
-16,18
Trigo
CHT
-2,83
-21,63
Borracha SM20
Malásia
-4,11
-3,53
Boi
BM&F
-3,02
11,10
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            Os dados finais da safra 2004/05 dos países do hemisfério norte, especialmente a norte-americana de grãos, indicam aumento na oferta e nos estoques dos principais grãos e fibras, o que vai continuar a pressionar as cotações do mercado de futuros desses produtos no curto prazo, como pode ser visto nos gráficos abaixo:

 

            Por outro lado, as informações sobre efeitos dos furacões na Flórida indicam quebra da safra de laranja da ordem de 33%, revertendo à tendência das cotações do setor, o que deve ser reforçado por uma menor produção de São Paulo, mantendo o crescimento das cotações do suco de laranja. Já a maior demanda internacional por açúcar e álcool deverá continuar pressionando as cotações do açúcar no mercado internacional. Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            As primeiras estimativas da safra brasileira para o ano agrícola 2004/05 indicam quebra de 20% na produção futura de café no país, que, associada à menor safra na América Central e ao atraso na safra colombiana, pressionou fortemente as cotações do arábica na bolsa de Nova York. Ao mesmo tempo, as perspectivas de menor safra futura de robusta no Brasil e no Vietnã fizeram com que se iniciasse a recuperação nas cotações do produto no mercado de Londres. A expectativa é de que a tendência de alta se mantenha no primeiro trimestre de 2005, até o início da colheita da safra brasileira, como pode ser observado nos gráficos abaixo:

            As cotações da borracha natural em queda no mercado internacional em dezembro e no ano de 2004, associadas à valorização do real, vão pressionar os preços recebidos pelos produtores brasileiros no primeiro semestre de 2005. Por outro lado, o fim da estiagem em outubro e a redução da oferta de bois confinados estimularam reação nas cotações do mercado futuro do boi gordo para novembro, mas a intervenção da Polícia Federal na segunda maior indústria de abate e exportação do país provocou forte instabilidade nas cotações de dezembro, pressionando os preços.
            Porém, o aumento do consumo no mercado interno, associado à continuidade na expansão das exportações, principalmente com o fantasma da vaca louca que surge em algum país a cada semestre, pode levar a uma retomada pela recuperação das cotações do boi no primeiro trimestre de 2005. O comportamento de ambos os produtos em 2004 pode ser observado nos seguintes gráficos:

            Tanto as exportações brasileiras de grãos e fibras quanto as receitas dos agricultores, que estão enfrentando custos crescentes, serão afetadas pela continuidade da valorização do real e pelas dificuldades de alocação de recursos financeiros por parte do Ministério da Agricultura1 para dar suporte ao plano de safra 2004/05, que de uma demanda estimada em R$ 3,00 bilhões em 2005, para esticar a comercialização da safra, teve aprovado no orçamento para o ano apenas R$ 11.800,00. Isto, associado a cotações decrescentes no mercado internacional de grãos, terá impacto direto no valor das exportações do agronegócio em 2005.
            A decisão do Congresso Nacional, de dar apoio de menos de doze mil reais ao agronegócio brasileiro em 2005, indica, por um lado, a baixa prioridade dada pelo Governo Federal às necessidades do setor e, por outro, que este ano agrícola vai ser um teste importante para se avaliar a sua competitividade em uma conjuntura menos favorável. No caso dos produtos com mercado internacional favorável, como açúcar, álcool, café, suco de laranja e carnes, os consumidores já estão sentiram o efeito dos preços no mercado interno neste último trimestre do ano. Nos demais segmentos, porém, os consumidores vão ser beneficiados e os produtores vão precisar aumentar a eficiência de suas atividades agropecuárias para não fecharem o ano com expressivos prejuízos.2

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1 Ministério da Agricultura Pecuário e Abastecimento (MAPA): www.agricultura.gov.br

2 Artigo registrado na CCTC-IEA sob n. HP-03/2005

Data de Publicação: 10/01/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor