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O trabalho feminino no rural paulista
As mulheres sempre trabalharam de forma intensa nas atividades agropecuárias. Pesquisas1 sobre o grau de integração da
mão-de-obra na produção evidenciaram ser a agricultura de subsistência a que
absorve maior força de trabalho feminino. Nas pequenas explorações, as mulheres
têm participação efetiva e não remunerada. TABELA 1 – Estimativa da população trabalhadora feminina
residente nas UPAs, por categoria, Estado de São Paulo, 2000-03 É na
categoria assalariada residente que o trabalho feminino deixa de ser configurado
como complemento ao trabalho masculino. No período, o número de assalariadas
ocupadas foi em média de 28,3 mil mulheres, sendo a segunda categoria mais
importante no rural paulista. Tabela 2 - Estimativa do número de trabalho volante
feminino, Estado de São Paulo, novembro 2000-03 O percentual do trabalho das meninas volantes em relação às adultas apresenta-se pequeno, mas há de se ter clareza dos prejuízos desta atividade no desenvolvimento infantil6. O número até chega a ser irrisório quando comparado a décadas anteriores, mas ele tem de ser eliminado no setor e no Estado de São Paulo.7
______________________ 1PAULILO, M.I.S. O trabalho da mulher no meio rural.
Piracicaba: USP/ESALQ, 1976. 145p. Dissertação de Mestrado. SAFFIOTI, H.I.B.; FERRANTE,
V.L.S.B. A mulher e as contradições do capitalismo agrário. In: A mulher rural e
mudanças no processo de produção agrícola; estudos sobre a América Latina.
Brasília: IICA, jul. 1984. P.32-39. PANZUTTI, N.P.M. As mulheres na produção familiar do algodão em Leme (1960-90).
Campinas. UNICAMP, 1992. 124p. (Dissertação de Mestrado). VICENTE, M.C.M. Inserção da
força de trabalho feminina: as bóia-frias na agricultura do sudoeste paulista.
São Paulo, FFLCH/USP, 1997. 228p. (Tese de Doutorado). 2 Para estimar o total de mulheres ocupadas nas
atividades rurais do Estado de São Paulo, a atual amostra probabilística é
composta por 3.204 unidades de produção agropecuária (UPAs) e foi sorteada com
base no cadastro obtido no Censo Agropecuário realizado por meio do IEA e da
CATI, conhecido por Projeto LUPA. 3 Trabalho Infantil no Brasil: Questões e Política. Disponível em: www.planalto.gov.br+Trabalho+Infantil
Acesso em 15 dez. 2004. 4 ENCONTRO REÚNE MAIS DE MIL MULHERES. Folha da Manhã. Terça-feira, 05 de outubro de 2004. Disponível em www.folhadamanha.com.br/VA04BEA..htm
5 BAPTISTELLA, C.S.L.; VICENTE, M.C.M.; VEIGA, J.E.R. Demografia e mercado de trabalho na
agricultura paulista. Informações Econômicas, SP, v.30.n.5, p. 7-29, maio 2000.
VICENTE, M.C.M. et al.
Ocupação e emprego no rural paulista. Informações Econômicas, SP, v.31.n.10, p.
7-17, out. 2001. 6 Discussão atual sobre o trabalho infantil encontra-se em BAPTISTELLA, C.S.L.& FRANCISCO, V.L.F.S. Mercado de trabalho: ocupação do menor no rural paulista. Disponível em http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=1652.
7 Artigo registrado no CCTC-IEA sob o n. HP 01/2005
Neste caso, em que está em jogo a sobrevivência da família, nem a idade, nem a
gravidez ou mesmo a existência de filhos em idades tenras, e tampouco o trabalho
doméstico, impedem-nas de trabalhar na roça. Nas médias e grandes propriedades,
elas aparecem, principalmente, nas categorias assalariada permanente e volante,
ou seja, como mão-de-obra individualizada.
O trabalho familiar feminino possui características peculiares, pois, além de polivalente, o tempo de trabalho da mulher pode ser ajustado segundo as necessidades do momento. A participação mais expressiva, no período de 2000 a 20032, independente da idade, encontra-se nas
categorias proprietária e parceira, cujo trabalho, além de não remunerado, tem
por característica ser considerado como o de simples ajuda à família. Embora
sendo ocupada em menor número, a mão-de-obra das arrendatárias também possui
essas características (tabela 1).
1Engloba mensalistas
e diaristas. Categoria Mulheres Meninas Mulheres Meninas Residente Proprietária Arrendatária Parceira Assalariada1 Outras residentes2 Total Categoria Mulheres Meninas Mulheres Meninas Residente Proprietária Arrendatária Parceira Assalariada1 Outras residentes2 Total
2Engloba
trabalhadoras que não encaixam nas categorias acima.
Fonte: Instituto de Economia
Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
As meninas (menos de 15 anos) residentes nas unidades de produção agropecuária (UPA) muitas vezes são os últimos membros da família a serem chamados para a lida no campo. São ocupadas, geralmente, no trabalho doméstico. Em decorrência destas ocupações, as meninas normalmente possuem mais anos de estudo. Dados do levantamento da PNAD/953 indicam que as meninas
possuem mais anos de estudo do que os meninos que trabalham.
A participação da população trabalhadora feminina residente nas UPAs em relação
ao trabalho masculino residente esteve ao redor de 26% no período. A menor
utilização do trabalho feminino foi registrada em 2003 com um decréscimo,
aproximado, de 30,0 mil mulheres.
Pesquisa realizada com trezentas famílias, em 27 municípios no Sul de Minas
Gerais e 5 municípios do Nordeste do Estado de São Paulo, mostrou que as
mulheres tinham grande poder decisório dentro da propriedade rural,
principalmente no que diz respeito a gastos e investimentos. Revelou também que
as mulheres têm maior grau de instrução em relação aos homens, pois freqüentam
por mais tempo a escola. São elas as responsáveis pelo repasse de informações
(preços dos insumos, quanto vale o produto da família, etc.) aos seus cônjuges,
quando, em época de safra, eles estão na 'lida'.
Diante dos resultados obtidos pela pesquisa, entidades públicas e privadas viram na mulher uma forma de aprimorar a empresa rural e passaram a organizar cursos e eventos voltados a este público4.
É na categoria volante que a precariedade e os aspectos mais negativos do
trabalho estão presentes. Para as meninas volantes, expostas às longas jornadas
de trabalho em atividades penosas, há prejuízos no aspecto físico e intelectual,
dada a dificuldade em conciliar estudo e trabalho. Já no caso das mulheres esta
forma de ocupação, embora também sacrificante, propicia rendimento para
manutenção de suas famílias.
Com a crescente mecanização das operações agrícolas, em particular na colheita de importantes culturas como cana-de-açúcar e algodão, encontram-se em marcha diversos processos de substituição do trabalho humano, sem haver de forma dinâmica a ocorrência de novas possibilidades de emprego. Os efeitos desses acontecimentos ecoam mais fortemente na ocupação das mulheres volantes. Estudos4 evidenciam uma de tendência declinante
dessa categoria. Na década de noventa, a participação das mulheres esteve em
torno de 24% em relação aos homens volantes. Em novembro de 2000, esta
participação foi de 13% e em novembro de 2003, de 15%.
A média anual do trabalho das mulheres volantes no período 2000-03 foi de 39,7 mil pessoas. Em novembro
de 2002, ocupou-se maior número de mulheres (45,6 mil) e de meninas (1,7 mil)
(tabela 2).
Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral
Data de Publicação: 10/01/2005
Autor(es):
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Vera Lucia Ferraz dos Santos Francisco Consulte outros textos deste autor