Artigos
Mercado de trabalho: ocupação do menor no rural paulista
A utilização da força de trabalho do menor (homens e mulheres com menos de 15 anos) nas unidades de produção agropecuária (UPA) no Estado de São Paulo correspondeu, aproximadamente, a 5% do total de residentes ocupados e de 3% a 4% do total dos não-residentes, no período de 2000 a 20031. A participação do menor nas categorias de trabalho
proprietário, arrendatário e parceiro (residente e não-residente) foi bastante
significativa. TABELA 1 – Estimativa da população trabalhadora com menos de
15 anos em atividades agrícola, residentes e não-residentes nas UPAs, Estado de
São Paulo, 2000-2003 TABELA 2 – Participação percentual de menores de 15 anos no
total da população trabalhadora residente e não-residentes nas UPAs, por
categoria, Estado de São Paulo, 2000-2003 Há mais de uma década o trabalho infanto-juvenil constitui preocupação da sociedade em geral. O meio rural paulista diminuiu a ocupação de menores residentes nas UPAs, de 70,7 mil em 19902 para 17,0 mil em 2003, mas esta diminuição tem se
mostrado cada vez mais lenta. Dentre os fatores que mais contribuíram para esta
diminuição, podem se destacar a reorganização da produção agrícola, onde
culturas com representativa utilização de mão-de-obra infantil (por exemplo o
algodão) apresentaram redução de área; a adoção da mecanização na colheita; e as
diversas ações e programas realizados pelo governo e instituições
não-governamentais na década de noventa. TABELA 3 – Estimativa do número de menores de 15 anos,
residentes por categoria e por sexo, Estado de São Paulo, 2000-2003 As
crianças desenvolvem atividades nas propriedades rurais que trabalham em regime
de economia familiar. Nas atividades que exercem fora da propriedade familiar,
os pais utilizam o trabalho dos filhos para garantir as cotas de produção. A
inserção precoce de muitas crianças deve-se a uma decisão de sua família para
aumentar a renda. Essa estratégia, embora tenha uma racionalidade econômica
imediata, como forma de assegurar a sobrevivência das famílias, reveste-se de
elevado custo social com o tempo, na proporção em que perpetua a pobreza e a
desigualdade dentro e entre as gerações. ___________________ 1Para estimar o total de menores de 15 anos ocupados
nas atividades rurais do Estado de São Paulo, a atual amostra probabilística é
composta por 3.204 unidades de produção agropecuária (UPAs) e foi sorteada com
base no cadastro obtido no Censo Agropecuário realizado por meio do IEA e da
CATI, conhecido por Projeto LUPA. 2 Análise mais acurada da década de noventa
encontra-se em BAPTISTELLA, C.S.L.; VICENTE, M.C.M.; VEIGA, J.E.R. Demografia e
mercado de trabalho na agricultura paulista nos anos noventas. Informações
Econômicas, SP, v.30, n.5, p.7-29, maio 2000. 3 BARROS, R.P. & MENDONÇA, R.S.P. Trabalho
infantil e a evasão escolar. Rio de Janeiro: DIPES/IPEA, 1996. 4 Artigo registrado na CCTC sob o n.
HP-374/2004
Por estas categorias manterem uma relação de produção, a participação do
trabalho dos membros da família é demandada. A categoria proprietário (residente
e não-residente) foi a que apresentou o maior número de indivíduos com menos de
15 anos. Foi significativo o número de menores assalariados (residente e
não-residente), embora sua participação em relação aos assalariados adultos
tenha sido em torno de 1% a 3% no decorrer desses quatro últimos anos. Com
relação à ocupação de volantes com menos de 15 anos, os dados sinalizam
tendência de crescimento, ou seja, de 1.854 menores em 2000 para 2.399 menores
em 2003 (tabelas 1 e 2).
1 Engloba os familiares que auxiliam
o trabalho. Categoria Novembro de 2000 Novembro de 2001 Novembro de 2002 Novembro de 2003 Número Número Número Número Residente Proprietário1 Arrendatario1 Parceiro1 Assalariado2 Outros residentes3 Subtotal Não-Residente Proprietario1 Arrendatario1 Parceiro1 Assalariado2 Volante Subtotal Total
2 Engloba
mensalistas e diaristas.
3 Engloba trabalhadores que não encaixam nas
categorias acima.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
1 Engloba os familiares que auxiliam o trabalho. Categoria Novembro de 2000 Novembro de 2001 Novembro de 2002 Novembro de 2003 Residente Proprietário1 Arrendatario1 Parceiro1 Assalariado2 Outros residentes3 Subtotal Não-Residente Proprietario1 Arrendatario1 Parceiro1 Assalariado2 Volante Subtotal Total
2 Engloba mensalistas e diaristas.
3
Engloba trabalhadores que não encaixam nas categorias acima.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral
Existem ainda produtores que ignoram a proibição do trabalho de menores, prevista nos artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e da Convenção 138 da Organização do Trabalho (OIT), embora esteja ocorrendo maior fiscalização por parte de órgãos públicos, sindicatos e organizações não-governamentais. A pobreza é, ainda, a questão mais importante na utilização dessa mão-de-obra, mas existem também a crença e o valor moral, há muito arraigados, de atribuir ao trabalho o papel de enobrecer, educar e evitar a marginalidade.
A instabilidade econômica gera instabilidade social e as crianças são as primeiras a sofrer com isso, dado que os aspectos mais negativos do trabalho infanto-juvenil estão no desenvolvimento físico, quando elas são expostas a longas jornadas em atividades penosas, insalubres e perigosas, e no desenvolvimento intelectual, com a dificuldade de conciliar estudo e trabalho2.
A maior ocupação do sexo masculino deu-se em 2002, com 18.556 indivíduos, e do
sexo feminino, em 2000 com 14.673 indivíduos. No período em estudo, o número de
meninos ocupados sempre esteve acima de 10 mil pessoas (tabela 3).
1 Engloba os familiares
que auxiliam o trabalho. Categoria Homens Mulheres Homens Mulheres Proprietários1 Arrendatários1 Parceiros1 Assalariados2 Outros residentes3 Total Categoria Homens Mulheres Homens Mulheres Proprietários1 Arrendatários1 Parceiros1 Assalariados2 Outros residentes3 Total
2 Engloba mensalistas e diaristas.
3 Engloba trabalhadores que
não encaixam nas categorias acima.
Fonte: Instituto de
Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
Quanto à escolaridade, é fato que o trabalho infantil reduz, pelo cansaço, a
capacidade de concentração das crianças e, ao submeter a sua saúde a riscos e
abusos, elas são conduzidas ao absenteísmo eventual, que, por sua vez, provoca
baixos índices de freqüência escolar e repetência.
O fato que agrava ainda mais este cenário é a qualidade da educação. Se for precária, conduz a criança ao desalento e à evasão. Há casos em que as próprias famílias percebem a má qualidade da educação e preferem retirar as crianças da (ou não colocar na) escola, conduzindo-as precocemente ao mercado de trabalho3.
A estratégia de combate ao trabalho infantil está, por um lado, na inserção dessas crianças em escolas de boa qualidade e, por outro, na continuidade dos programas governamentais (PROGER, PLANFOR, PRONAF, PAT, etc.) e não-governamentais. Isto resultaria, inicialmente, na melhoria da qualidade de vida das famílias, que teriam, assim, o incentivo econômico e, possivelmente, a predisposição para a mudança cultural, há muito arraigada, de utilizar esta força de trabalho.4
Data de Publicação: 07/01/2005
Autor(es):
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Vera Lucia Ferraz dos Santos Francisco Consulte outros textos deste autor