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Associar-se, ou chorar o leite derramado
1 MDA:www.mda.gov.br
Neste artigo veiculado pela imprensa, chama a atenção a maneira equilibrada com
que o setor comemora a estabilidade de preços promovida pelas exportações de
leite. É como se salientassem que não passa despercebida a 'artificialidade' no
processo, pois não foi o aumento de consumo da população brasileira que acabou
com a oscilação de preços, como seria a coisa adequada.
A opinião de representantes do setor é de que as exportações têm de se manter em
alta para que o crescimento da produção gire em torno de 5%, ou então tudo
voltará a ser 'como dantes no quartel de Abrantes'. Como, porém, não há no
horizonte do consumo brasileiro qualquer sinal que se traduza efetivamente no
seu aumento de forma significativa e proporcional ao crescimento que se pretende
constante, só mesmo a conjuntura favorável das exportações de produtos lácteos
continuará a ser o analgésico à dor de cabeça histórica dos produtores.
Ou seja, para que esta situação se concretize nos moldes da agroindústria
exportadora, é preciso que nossa grande capacidade de produzir a baixo custo
reflita ano a ano no aumento da safra leiteira com modernização e organização de
todo o setor.
Por outro lado, saliente-se que as exportações determinam um patamar de
qualidade e de volume de produção que nos dias de hoje está longe de ser
alcançado pela produção familiar do país. E se o efeito deste processo for o
abandono de grande parcela destes produtores na atividade, o resultado será
catastrófico. Isto porque o leite funciona para os agricultores familiares como
uma fonte de renda estável. Embora a produção e a produtividade em suas unidades
produtivas sejam menores, é o leite que garante um fluxo constante de dinheiro
para o pecuarista.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário(MDA)1, é fundamental que a agricultura familiar seja
priorizada quanto à discussão de estratégias de seu fortalecimento na cadeia
leiteira, pois este segmento é uma das atividades mais importantes para a
geração de emprego e renda no campo. Apesar de a pecuária leiteira empregar
pouco por unidade, há que se considerar que são 500 mil agricultores familiares
de leite no mercado formal e outros 500 mil no informal, que totalizam
aproximadamente 52% da produção brasileira.
É preciso, portanto, políticas de proteção e estímulo aos agricultores
familiares, pois entre 1996 e 2000 cerca de 107 mil estabelecimentos desse
segmento já haviam sido excluídos do fornecimento do leite.
É fundamental incentivar a criação de associações de produtores e pequenas
cooperativas, pois só assim terão condições de se fixar no mercado pelos saltos
qualitativos e quantitativos.
Enfim, unidos, os agricultores familiares de leite poderão corresponder à
‘máxima’ de que leite só é bom negócio produzido com elevado volume. E só
organizados em associações e pequenas cooperativas conseguirão adquirir os itens
essenciais destinados à modernização do setor, tais como as ordenhadeiras
mecânicas, materiais de inseminação artificial, tanques de resfriamento e
trituradores, que conferirão à produção o esperado salto de qualidade.
Data de Publicação: 02/12/2004
Autor(es): José Eduardo Rodrigues Veiga (zeveiga@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor