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Agronegócios paulistas: indicadores de P&D e do desempenho setorial
A
opinião pública, de maneira quase unânime, destaca o papel estratégico das
inovações tecnológicas para o processo de transformação decorrente do
desenvolvimento econômico. Na atual quadra da economia brasileira, é importante
verificar o patamar dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D),
dado o inexorável da relevância da pesquisa pública paulista e brasileira para a
construção do patamar atual de competitividade das cadeias de produção dos
agronegócios. Tabela 1 - Síntese dos indicadores dos agronegócios
paulistas (1), 1999-2003
A qualidade das contribuições institucionais deve ser medida pela amplitude das
transformações que ajudou a produzir no sistema produtivo na qual está inserida.
No caso dos agronegócios paulistas, elas foram substantivas, tendo como base a
estrutura atualmente consolidada na Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios (APTA)¹.
No período 1999-2003, a síntese dos indicadores econômicos dos agronegócios (tabela 1) mostra a força do dinamismo setorial.
(1) valor da produção em R$ 1000 médios de 2003 e comércio
exterior em US$ 1000. Variáveis Valor da Produção Exportações Importações Saldo Comercial
Fonte: IEA/APTA.
Tabela 2 - Síntese das exportações dos agronegócios paulistas, em US$ mil, 1999-2003
Perfil de Produtos | 1999 | 2000 | 2001 | 2002 | 2003 |
Básicos | 2.112.080 | 1.421.010 | 1.133.029 | 1.315.425 | 1.645.089 |
Semimanufaturados | 2.402.061 | 2.255.928 | 1.150.735 | 1.104.171 | 1.367.040 |
Manufaturados | 1.773.920 | 1.853.354 | 3.912.523 | 4.117.354 | 4.654.520 |
Total | 6.288.061 | 5.530.292 | 6.196.287 | 6.536.950 | 7.666.649 |
A síntese dos investimentos em P&D, consubstanciada nos orçamentos da APTA para o período 1999-2003, mostra, entretanto, preocupante estagnação dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento para os agronegócios pelo Governo do Estado de São Paulo.
- O orçamento total em valores constantes de 2003 cresceu de R$ 98,3 milhões em 1999 para R$ 117,0 milhões no biênio 2000-2001, recuando para R$ 101,3 milhões em 2003.
- O orçamento reflete de forma direta os dispêndios com recursos humanos, que cresceram de R$ 68,1 milhões em 1999 para R$ 78,7 milhões em 2000, reduzindo de forma persistente até atingir R$ 64,0 milhões em 2003, na fase mais aguda da recente crise fiscal brasileira dados os limites legais impostos para dispêndios totais com pessoal.
- As despesas operacionais totais evoluíram de R$ 30,2 milhões em 1999 para R$ 40,1 milhões em 2001 e recuaram para o patamar de R$ 37,3 milhões em 2003, também refletindo de forma nítida a crise econômica e fiscal do biênio 2002-2003.
- Os dispêndios operacionais com recursos aplicados pelo Tesouro do Estado, após crescerem de R$ 15,9 milhões em 1999 para R$ 19,7 milhões em 2000, recua para R$ 13,5 milhões em 2003, num reflexo direto do aperto das contas públicas no biênio 2002-2003.
- As captações de recursos com base em parcerias, institucionais e público-privadas, evoluíram de R$ 14,3 milhões para R$ 23,7 milhões; assim, a participação dessas parcerias no dispêndio operacional total passou de 47,5% no início do período para 63,7% no final do período.
Tabela 3 - Síntese dos investimentos em P&D dos agronegócios paulistas, 1999-2003
Ítens (1) | 1999 | 2000 | 2001 | 2002 | 2003 |
Operacionais Tesouro | 15.862.629 | 19.684.137 | 18.033.468 | 13.638.386 | 13.544.631 |
Operacionais Parcerias | 14.340.587 | 18.629.281 | 22.057.627 | 22.320.115 | 23.742.495 |
Operacionais Totais | 30.203.216 | 38.313.418 | 40.091.095 | 35.958.501 | 37.287.126 |
Pessoal Tesouro | 68.063.539 | 78.689.274 | 77.022.709 | 72.277.514 | 63.966.191 |
Tesouro Total | 83.926.168 | 98.373.411 | 95.056.177 | 85.915.900 | 77.510.822 |
Orçamento Total | 98.266.755 | 117.002.692 | 117.113.804 | 108.236.015 | 101.253.317 |
Fonte: APTA.
A síntese de produção de bens e serviços decorre de processo de aprimoramento gerencial capaz de produzir resultados importantes, como fruto do esforço institucional centrado na sua programação de P&D (tabelas 4 e 5).
- As análises laboratoriais para certificação de qualidade, fundamentais para as exportações dos agronegócios paulistas, aumentaram 165,2%, de 188,2 mil em 1999 para 499,2 mil em 2003.
- A produção de sementes básicas, importante para a multiplicação dos resultados de pesquisa e sua internalização no sistema produtivo, cresceu 57,75%, de 578,4 toneladas para 912,3 t.
- O número anual de inovações tecnológicas, representando resultados incorporados ao processo produtivo, cresceu de 86 em1999 para 161 em 2003.
- O número de atendimentos diretos evoluiu 27,5%, de 32,4 mil para 41,4 mil no período.
- O atendimento eletrônico, implantado em 1999, passou de 150,1 mil em 2000 para 475,2 mil em 2003, democratizando o acesso a informações em tempo real.
- O número de pessoas treinadas em inúmeros eventos para transferência do conhecimento aumentou 132,97%, de 20,5 mil pessoas para 47,9 mil pessoas, contribuindo com a maior eficiência e produtividade setorial.
- O número anual de pesquisas em andamento cresceu de 935 para 1.283, com a ampliação da ação institucional que atende aos grandes grupos de cadeias de produção; destaque para os vegetais para exportação (cana, café e laranja) e a proteína animal (carne bovina, leite, suínos, carne de frango e ovos).
Tabela 4.- Síntese da transferência do conhecimento, APTA, 1999 a 2003
Item | 1999 | 2000 | 2001 | 2002 | 2003 |
Análises laboratoriais (n°) | 188.192 | 235.722 | 242.526 | 499.167 | |
Sementes Básicas (kg) | 578.432 | 634.329 | 728.000 | 813.000 | 912.320 |
Inovações Tecnológicas (n°) | 86 | 85 | 97 | 121 | 161 |
Atendimentos Diretos (n°) | 32.450 | 32.202 | 35.987 | 38.367 | 41.386 |
Atendimentos eletrônicos (n°) | - | 150.133 | 301.578 | 364.114 | 475.210 |
Pessoas Treinadas(n°) | 20.545 | 24.664 | 28.645 | 47.858 |
Tabela 5.- Síntese da geração do conhecimento, APTA, 1999 a 2003
Programas | 1999 | 2000 | 2001 | 2002 | 2003 |
Agroexportação | 176 | 213 | 217 | 195 | 267 |
Grãos e Fibras | 160 | 159 | 151 | 150 | 157 |
Proteína Animal | 136 | 183 | 193 | 202 | 218 |
Agronegócios Especiais | 140 | 208 | 203 | 168 | 167 |
Horticultura de Mesa | 134 | 146 | 171 | 159 | 183 |
Infra-estrutura dos Agronegócios | 50 | 78 | 101 | 109 | 104 |
Ocupação do Espaço | 49 | 81 | 85 | 84 | 99 |
Agronegócio Familiar | 37 | 40 | 46 | 42 | 38 |
Políticas Públicas | 53 | 58 | 60 | 56 | 50 |
TOTAL | 935 | 1.166 | 1.227 | 1.165 | 1.283 |
A
crise fiscal, resultante do esgotamento do padrão de financiamento do setor
público - ainda não solucionado - e da estagnação econômica recente, exige a
estruturação de mecanismos que ampliem a capacidade de geração de inovações da
pesquisa, com investimento compatível com o crescimento da renda setorial. Sem
isso, o desempenho institucional pode estar comprometido.
O processo de formatação do novo padrão de financiamento do setor público, com
base nas leis de parceria público-privadas e de inovação tecnológica - ambas
desenvolvidas nos planos estaduais e federal – apresenta desafios na
continuidade da mudança institucional. A premissa para esse sucesso exige a
transformação do atual regime jurídico da APTA, sujeito aos preceitos da
Administração Direta, porque ele incompatível com a institucionalidade que está
sendo definida.
A transformação da APTA em entidade pública autárquica, dotando-a de
personalidade jurídica própria e de patrimônio próprio, é crucial para
estruturar mecanismos consistentes de:
- gestão de direitos de propriedade intelectual, estimados em R$ 30 milhões anuais a preços de março de 2004; cria fonte adicional de receitas para financiar as despesas correntes e os investimentos;
- parceria público-privada para a geração e multiplicação de inovações, em especial com o acesso, em parceria com empresas paulistas, a recursos competitivos das agências de fomento e dos fundos setoriais; viabiliza a captação de recursos em volume maior do que o atual dada a maior agilidade operacional;
- parceria público-privada para o estabelecimento de incubadoras de novos negócios, com a gênese e o desenvolvimento de empresas de base tecnológica e empreendimentos inovadores de empresas já estabelecidas; permite a atuação por meio do uso por prazo determinado, mediante cessão onerosa e participação nos resultados, da infra-estrutura laboratorial e experimental da Agência;
- parceria público-privada para a realização de feiras de negócios tecnológicos nos moldes da Agrishow Ribeirão Preto, que geram renda e emprego no território paulista; é interessante para estimular esse processo de formatação de feiras menores em vários pontos do Estado de São Paulo, com base nos 15 Pólos Regionais de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios.
O novo
regime jurídico da APTA, consubstanciado em instrumento legislativo apropriado,
na verdade consiste no cumprimento do dispositivo da Constituição Federal,
representado pelo Parágrafo 2° do artigo 207, que confere à APTA, enquanto
instituição de pesquisa científica e tecnológica, flexibilidades operacionais
similares àquelas de que dispõem as universidades públicas paulistas por força
do mesmo artigo constitucional.
Essa maior agilidade operacional permitirá que a APTA desenvolva toda a sua
potencialidade institucional. No âmbito da pesquisa científica e tecnológica do
governo paulista, face às especificidades constitucionais e legais, não basta
uma lei de inovações tecnológicas para dinamizar instituições como a APTA. É
preciso ir além.
1 A Agência Paulista de Tecnologia Dos Agronegócios (APTA), com base na LC 895 de 14 de maio de 2001 e no Decreto 46.488 de 8 de janeiro de 2002, consolidou-se no período 1999-2003 como a instituição de pesquisa científica e tecnológica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo.
Data de Publicação: 05/11/2004
Autor(es): José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor