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Café: o clima comanda as expectativas
O
mercado de café praticamente se manteve estável até a última semana de maio
quando incidiu, sobre alguns cinturões produtores, baixas de temperatura, com
indicação de risco de geadas. Esse fenômeno contribuiu para a elevação das
cotações do produto no mercado internacional em mais de 20%, o que se mantive
nas duas primeiras semanas de junho (gráfico 1). Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes
mercados de futuros e do OIC-Composto diário, 2002 a 2004
Assim, sob a prevalência do clima, dados os riscos de geadas no Brasil, as
perspectivas são de alta nas cotações do produto. Situação esta que poderá se
manter em razão de nos situarmos no segundo ano cafeeiro em que a demanda
internacional é maior do que a oferta, acelerando a redução dos estoques nos
países consumidores.
Desta feita, prevaleceu no mês de maio, e na primeira quinzena de junho,
tendência de alta das cotações do café nos diferentes mercados. Na Bolsa de Nova
Iorque, o café arábica (Contrato C, segunda posição) apresentou aumento
acumulado de 17,14% na cotação média, comparada com a de abril último, enquanto
na BM&F a alta acumulada nesses 45 dias foi de 18,10%. Já no mercado de
robusta, o crescimento na Bolsa de Londres foi de 13,07%. Ao considerar o
indicador OIC-Composto diário, observou-se alta acumulada de 13,07% no mesmo
período em relação à média de abril.
Fonte: Gazeta Mercantil
Ainda em maio e junho, as cotações dos cafés arábicas, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram alta a partir da última semana de maio, com a média de junho cerca de 17,23% maior do que a observada em abril (gráfico 2). Nesse período, o diferencial de preços entre o café arábica cotado na BM&F e o Contrato C de Nova Iorque foi de US$ 17,60 por saca, cerca de 7,35% superior ao observado no mês de abril.
Gráfico 2 - Cotações diárias em maio e junho de 2004 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição
Fonte: Gazeta Mercantil
O cafeicultor brasileiro também foi beneficiado pelas altas observadas no mercado internacional, em função das previsões de geadas. O aumento acumulado em maio e junho foi de 23,64% em relação ao preço médio observado em abril. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores (em reais), nos últimos 12 meses, aponta para alta, em junho de 2004, de 55,91% em comparação com o mesmo mês do ano anterior (gráfico 3).
Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, no Estado de São Paulo, no período de 2001 a 2004
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
Mercado Interno
Uma forma de inferência sobre a distribuição recente de renda no mercado interno é a comparação da evolução dos índices de preços do café em nível de varejo com o recebido pelo cafeicultor. Essas informações indicam que ao longo de 2003, enquanto os preços recebidos pelos produtores flutuaram fortemente para baixo, os preços no varejo mantiveram tendência contínua de alta ou ligeira queda, sempre acima dos preços aos produtores. E que apenas a partir de fevereiro de 2004 voltaram a se equiparar, revelando ganhos prováveis no varejo e na indústria de torrefação no período (gráfico 4).
Gráfico 4 – Índice de preços do café - comparação entre preço recebido pelo produtor e pago no varejo, 2003-04
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Exportações em 2004
As
exportações de café vêm mantendo bom ritmo, com desempenho bastante
satisfatório. Estima-se que cerca de 11 milhões de sacas sejam embarcadas até o
encerramento do primeiro semestre e outras 15 milhões no segundo semestre,
totalizando 26 milhões de sacas. Esse montante permite ao País consolidar fatia
acima de 30% do comércio mundial do produto.
O aumento das cotações internacionais imprimiu razoável recuperação ao resultado
cambial das exportações. No caso do arábica, volume similar ao exportado em 2003
resultou numa receita US$ 100 milhões maior em 2004. Também o incremento dos
embarques de café solúvel consolida uma recuperação desse importante segmento do
agronegócio, que já vinha sendo observada desde o ano anterior. As exportações
de café conillon apresentaram a maior queda, tanto em volume quanto em valor. As
aquisições desse tipo de café por parte das torrefadoras, para a composição das
ligas com vistas a tornar o produto mais competitivo, devem aparentemente
explicar esse fraco desempenho do produto (tabela 1).
Tabela 1 – Volume e valor das exportações de café, por tipo de produto, janeiro a maio de 2003 e 2004
2003 | . | | | | | |
Volume | sc. | 8.165.231 | 1.451.188 | 30.237 | 1.102.968 | 10.749.624 |
Receita | US$ | 474.243 | 61.191 | 2.742 | 81.471 | 619.647 |
2004 | ||||||
Volume | sc. | 8.196.069 | 204.133 | 16.652 | 1.259.216 | 9.676.070 |
Receita | US$ | 578.692 | 10.447 | 2.645 | 115.349 | 707.133 |
Data de Publicação: 21/06/2004
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor