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Novos mercados para o etanol
As pressões e acordos ambientalistas que visam à redução dos gases de efeito estufa ampliam as portas para o etanoll brasileiro nos
mercados tanto interno quanto externo. 1O álcool etílico é obtido a partir da fermentação de açúcares, sendo que o Pró-álcool propiciou ao Brasil know-how da produção de etanol a partir da
cana-de-açúcar.
O mercado interno de álcool etílico, para fins automotivos, é composto por dois segmentos: álcool anidro e álcool hidratado. O primeiro é misturado com a gasolina2. O álcool hidratado, enquanto combustível, é consumido diretamente. Este mercado tende a aumentar em função do crescimento da produção nacional de veículos a álcool3 e do início da produção comercial de veículos com
bi-combustível, no ano passado, que utilizam tanto o álcool quanto a gasolina em
qualquer proporção.
A partir de 2005, o governo federal criará um novo segmento para o etanol
carburante: o biodiesel. Biodiesel é um 'combustível verde' que utiliza o etanol
como matéria-prima, reagindo-o quimicamente com ácidos graxos, mediante a
presença de um catalizador. Ele pode substituir, parcial ou totalmente, o óleo
diesel e, portanto, representa a inserção do etanol em veículos pesados.
Nos primeiros projetos em andamento no Congresso Nacional4, a idéia inicial é, em 2005, complementar o diesel mineral com 5% de biodiesel – daí a nomenclatura B55 – aumentando gradualmente o percentual do
combustível verde.
A Agência Nacional de Petróleo (ANP) estima que, em 2005, o consumo de óleo diesel chegará a 40 bilhões de litros. Se o biodiesel for inserido na frota nacional com um percentual de 5%, estima-se que serão necessários 340 milhões de litros de etanol para a implantação do Programa Nacional de Biodiesel, considerando-se que o volume de álcool, utilizado em sua produção, atinja um máximo de 20% do montante de óleo vegetal6.
Especialistas do setor6 divulgam que o uso de biodiesel implica na redução de poluentes e de gases de efeito estufa. Na utilização de B5 (5% de biodiesel e 95% de diesel), a emissão de CO2, principal causador do efeito estufa, é reduzida em 7%. O decréscimo na emissão de material particulado e fuligem e na queima de hidrocarbonetos é de 68% e 36%, respectivamente, e de 17% nos gases de enxofre (causadores da chuva ácida). Somente o uso do etanol, seja na forma de álcool hidratado ou dos 25% de anidro adicionados à gasolina, evita que 7 milhões de toneladas de carbono equivalente deixem de ser
jogados na atmosfera, segundo balanço energético desenvolvido pelo Centro de
Tecnologia da Coopersucar (CTC).
Dada a redução das emissões de gases poluentes, cotas de carbono poderão ser
vendidas através do Fundo Protótipo de Carbono (PCF), administrado pelo Banco
Mundial. Assim, a expansão do uso do etanol na frota brasileira de veículos,
tanto leves quanto pesados, enquadra o Brasil nas diretrizes dos Mecanismos de
Desenvolvimento Limpo (MDL), previstos no Protocolo de Kyoto, colocando-o em
destaque no Mercado de Carbono.
Os compromissos de redução de gases de efeito estufa, assumidos pelos 167 países
que já ratificaram o Protocolo de Kyoto, podem ampliar as exportações do álcool
brasileiro.
Além dos benefícios sócio-ambientais do álcool combustível, a grande maioria dos
países que já utilizam o biodiesel formula-o com metanol, o qual por ser obtido
através da destilação seca da madeira ou de fontes não-renováveis, apresenta
maior custo de produção e maior toxidade que o etanol. Dado o potencial de
produção brasileira, este fato abre espaço para o produto nacional, haja vista o
empenho do empresariado sucroalcooleiro com relação ao acordo Brasil-Alemanha e
o interesse de exportar para o Japão, que, enquanto signatário do Protocolo, tem
um programa de governo voltado para a importação de biocombustíveis.
Outro ponto relevante é o programa de despoluição atmosférica do governo chinês,
implantado em 2001. Atualmente, em nove províncias chinesas tornou-se
obrigatória a adição de 10% de álcool à gasolina. Quando o projeto foi
idealizado, para três províncias, existiam estoques abundantes de milho, de onde
a China produzia etanol. No entanto, dada a explosiva expansão econômica do
país, a produção de milho voltou a abastecer, exclusivamente o segmento
alimentar, sobretudo a avicultura e a suinocultura.
A demanda imediata por etanol do programa ambiental chinês está em 500 milhões de litros. Mas a meta do governo é consumir um bilhão de litros de álcool/ano até o fim de 2005. Assim, governo e empresários brasileiros estão se movimentando para entrar, também, no mercado chinês.7
Na safra 2003/04, o setor sucroalcooleiro estima que serão produzidos 14 bilhões
de litros de álcool (Procana, 2002). Embora este montante esteja muito acima dos
requeridos para a suprir a produção de biodiesel (340 milhões de litros) e as
exportações ora esperadas (690 milhões de litros), pouco pode prever-se sobre o
suprimento para a totalidade do mercado externo em potencial, pois uma maior
estabilidade do mercado interno de etanol combustível necessitará, não só do
empenho dos empresários sucroalcooleiros mais também de políticas públicas que
permitam ampliar a participação do produto tanto na matriz energética nacional
quanto internacional.
2A proporção é de 20 a 24% (com variação de + ou
– 1), de modo a equilibrar a relação entre oferta e consumo, segundo
determinação legal do Conselho Interministerial do Açúcar e Álcool.
3Apenas no biênio 2002-2003, a produção nacional de veículos à álcool aumentou 49,0%, segundo a ANFAVEA (www.anfavea.com.br)
4Atualmente circula no Congresso Nacional o
Projeto de Lei no 3.368, no qual o deputado federal Ariosto Holanda propõe um
percentual de 2%. Segundo declarações da Ministra de Minas e Energia, no segundo
semestre de 2004, pretende-se utilizar o B2 ainda não como mistura compulsória.
5O número ao lado direito da letra B corresponde
ao percentual de biodiesel acrescido ao diesel mineral.
6Declaração do especialista Miguel Dabdoub, em entrevista à ÚNICA. Disponível em: http://www.portalunica.com.br/referencia/biblioteca.jsp?pkEntrevista . Acesso em 27/05/04.
7MALTA, Cynthi. Brasil pode lucrar com interesse da China por energias alternativas. Jornal Valor Econômico, 18/05/04.
Data de Publicação: 08/06/2004
Autor(es): Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor