Comportamento Do Mercado De Trabalho Na Agricultura Paulista, 2000 E 2001

            Em junho de 2001, foram ocupadas 1,184 milhão de pessoas na agricultura paulista, segundo estimativa do levantamento por amostragem realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI). A comparação com as informações do levantamento anterior, realizado em novembro de 2000, evidenciou um decréscimo de 8,2% na ocupação. Uma vez que a atividade agrícola se caracteriza pela sazonalidade das atividades ao longo do ano, algumas categorias de trabalho foram mais requisitadas em junho, enquanto outras foram reduzidas (Tabela 1).

Tabela 1 - Estimativa da População Trabalhadora Residente e Não-Residente nas UPAs,
Estado de São Paulo, Novembro de 2000 e junho de 2001
Categoria Residente Novembro de 2000 Junho de 2001
Número
%
Número
%
Proprietário 1 227.147  43,3 250.343  47,3
Arrendatário 1 13.621  2,6 22.093  4,2
Parceiro 1 47.991  9,2 51.708  9,8
Assalariado2 256.516  48,9 205.535  38,8
Subtotal 545.275  100,0 529.679  100,0
Não-Residente
Proprietário 1 163.899  22,0 160.440  24,52
Arrendatário 1 40.300 5,4 27.499  4,20
Parceiro1 12.828 1,7 15.456  2,36
Assalariado 2 259.159 34,8 255.174  39,00
Volante 268.473  36,1 195.720  29,91
Subtotal 744.659  100,0 654.289  100,00
Total 1.289.934 - 1.183.968  -

              1 Engloba os familiares que auxiliam no trabalho.
              2 Engloba administrador, mensalista, diarista, tratorista, etc.

            O trabalho familiar residente nas unidades de produção agropecuária (UPAs) – que engloba proprietário, arrendatário e parceiro - cresceu 12,2%, apesar do decréscimo verificado na área e na produção. Dentre os fatores associados a este crescimento, destaca-se a realização da colheita de café. Um levantamento específico sobre ocupação e emprego na cafeicultura paulista estimou um considerável contingente de trabalho familiar, pois na safra 1999/2000 havia 51.701 produtores e familiares trabalhando permanentemente nas propriedades. Deste total, a grande maioria compõe-se de proprietários (72%), enquanto os parceiros aparecem em menor proporção (26%) e os arrendatários são pouco expressivos (2%). É significativa a parcela de proprietários e parceiros que residem nos imóveis (64,5%), por ser uma cultura que demanda cuidados constantes. Por ocasião da colheita, familiares do produtor se deslocam para esta atividade, realizada de maio a julho, preferencialmente. De maneira diversa ao crescimento do trabalho familiar residente nas UPAs, a ocupação dos não-residentes nas UPAs desta categoria diminuiu 6,3%.
            O emprego de trabalhadores assalariados (administrador, tratorista, diarista e mensalistas em geral), residentes ou não nas UPAs, decresceu 10,6%. Para os assalariados residentes, a queda foi mais significativa, reforçando uma tendência observada ao longo das duas últimas décadas, ou seja, a permanência na atividade agrícola com residência na cidade. Há ainda que se mencionar a adequação dos processos de produção na agropecuária diante do desafio de produzir com mais competitividade. Na atualidade, encontram-se em desenvolvimento e aplicação tecnologias poupadoras de trabalho, notadamente aquelas direcionadas aos tratos culturais e à colheita das diversas culturas. Desta forma, necessita-se de um número menor de trabalhadores, porém, sempre mais qualificados e polivalentes. A redução do número de pessoas ocupadas também ocasiona a reorganização das funções de direção, com a conseqüente eliminação de cargos e funções, antes necessários.
            As variações na ocupação dos trabalhadores volantes ocorrem durante o ano, em função das atividades agrícolas desenvolvidas. Por essa razão, os meses de novembro e junho apresentam comportamentos distintos, com totais de 268,5 mil e de 195,7 mil trabalhadores volantes ocupados, respectivamente. A variação foi negativa em 27,1%. Esta é uma tendência que se vem firmando desde o final dos anos 90s, pois em novembro de 1999 foram ocupados 269,2 mil volantes e em setembro do mesmo ano, 305,2 mil. Este quadro é reflexo principalmente da intensificação da colheita mecânica da cana-de-açúcar e do café, este último em menor escala. Em contrapartida, cresce a participação relativa da laranja, cuja colheita é manual e concentrada de setembro a novembro.
            Estimativas da demanda de força de trabalho para as principais culturas produzidas no Estado de São Paulo, disponibilizadas no Sensor Rural Seade, mostraram que, com exceção de eucalipto, laranja, olerícolas e frutíferas, as demais atividades sofreram grande redução das ocupações agrícolas no período 1990-2000, especialmente a cana-de-açúcar, o café e os grãos e oleaginosas (algodão, arroz, feijão e trigo). Esta foi, portanto, uma tendência apontada para a década de 90.
            A comparação entre as safras 2000 e 2001 revela algumas particularidades decorrentes das flutuações da produção agropecuária. Segundo dados do Sensor Rural, elaborado pela Fundação SEADE, o conjunto formado por grãos e oleaginosas apresentou uma expansão de 3,2% na área cultivada, levando a um crescimento de 4,9% no total de equivalentes-homens-ano (EHA) demandados. Contribuíram para este resultado algodão, amendoim (devido à expansão do cultivo intercalado na reforma de canaviais e preços favoráveis na safra anterior), feijão (influenciado por bons preços e condições climáticas favoráveis) e milho (em razão do maior consumo deste grão em 2001). A situação apresentou-se favorável para a cana-de-açúcar face à elevação do preço do açúcar no mercado internacional e do álcool no mercado interno, a partir do final do ano 2000.
            As atividades com desempenho menos favorável na safra paulista de 2001 foram a fruticultura, cujo panorama de 2001 difere do perfil da atividade nos anos 90s; a olericultura, devido principalmente à redução do plantio de tomate envarado e de cebola; a laranja, com produção inferior àquela obtida na safra anterior; e o café, devido às geadas ocorridas no ano passado e à seca na época de florada, diminuindo a produção. Além disso, os elevados estoques e os problemas com a política de retenção de café certamente levaram a uma redução no ritmo de plantio.
            As estimativas sobre trabalho em atividades econômicas rurais não-agrícolas evidenciaram um crescimento de 24,4%, em junho de 2001 em relação a novembro de 2000, devido, preponderantemente, aos setores de atividades industriais e de atividades administrativas. Este crescimento está relacionado à intensificação do processamento industrial da matéria-prima nas usinas de açúcar e destilarias nesta época da safra (Tabela 2).

TABELA 2. Estimativa da População  Trabalhadora em Atividades Econômicas Rurais
Não Agrícolas, Estado de São Paulo, Novembro de 2000 e Junho de 2001
. Número % Número %
Atividades Industriais 1 62.514  60,0 78.121  60,3
Atividades Administrativas 2 9.382  9,0 21.259  16,4
Prestação de Serviços 3 11.821  11,3 9.024  7,0
Atividades Industriais e de Servifços na cidade 20.461  19,6 21.179  16,3
Total 104.178  100,0 129.583  100,0

               1 Pessoas residentes ou não na UPA, ocupadas em usina de açúcar, de leite, olarias, etc.
               2 Pessoas residentes ou não na UPA, ocupadas em empresas agroindustriais
               3 Pessoas residentes ou não na UPA ocupadas em pesqueiros, hotelaria, turismo, etc.
               Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.

            As informações sobre intenção de plantio para a próxima safra, do levantamento IEA/CATI do mês de setembro de 2001, mostraram decréscimo de 0,29% na área a ser plantada com as principais culturas das águas, em comparação com a safra anterior. As retrações mais significativas são esperadas para amendoim das águas (14,68%), arroz (7,83%), algodão (2,58%) e milho (2,52%). Aumentos são esperados para batata das águas (7,95%), feijão das águas (7,14%) e soja (4,56%). Destas culturas, as com maior impacto na demanda por força de trabalho seriam o algodão, ainda representativo na colheita manual, e o feijão e o amendoim, com colheitas semi-mecanizadas. O milho, apesar do elevado grau de mecanização no Estado de São Paulo, ocupa um área significativa, o que o faz importante no emprego de mão-de-obra. Em 2001, ocupou a sétima posição quanto à demanda por força de trabalho no quadro comparativo das principais culturas da agricultura paulista.
            A partir desse quadro inicial, não se esperam alterações significativas na ocupação de mão-de-obra nos cultivos anuais. Para uma avaliação mais completa, é fundamental considerar as previsões das colheitas de cana, café, laranja e frutíferas e olerícolas diversas, a fim de se compor o panorama geral do emprego agrícola 2001/2002.
 

1 O detalhamento do levantamento atual sobre demografia e mão-de-obra , realizado pelo Instituto de Economia Agrícola e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral consta em VICENTE, M.C.M et al. Ocupação e emprego no rural paulista, 1999-2000. Informações Econômicas, São Paulo, v.31, n.10, p.    , out. 2001.
2 BALSADI, O. V. & BELIK, W.  Emprego na agricultura: atividades intensivas em mão-de-obra oferecem alternativas reais de emprego e renda na agricultura. Agroanalysis, FGV, out –2001.
3 SEADE. Fundação SEADE. Sensor Rural, n. 15 mai/ago  2001. 
4 CASER, D. V. et al. Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas no Estado de São Paulo, ano agrícola 2001/02, intenção de plantio setembro de 2001. Informações Econômicas, SP, v.31, n.11, nov.2001.


Data de Publicação: 05/12/2001

Autor(es): Maria Carlota Meloni Vicente (carlota@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor