Artigos
O algodão nas exportações da cadeia têxtil e confecção
As
exportações brasileiras da cadeia de produção de têxteis e confecções alcançaram
US$1,656 bilhão em 2003, com acréscimo de 39,7% em comparação com as do ano
anterior. Em face do superávit de US$595 milhões, o mais elevado do decênio,
esse desempenho teve conotação especial, após as vultosas importações e
acentuados déficits no saldo comercial do setor, principalmente durante a
primeira metade dos anos 90s. A contribuição do algodão Em
2003, as vendas externas de artigos têxteis e confeccionados de algodão,
inclusive na forma de pluma, alcançaram US$1,033 bilhão, o equivalente a 62,3%
do total exportado pela cadeia. Nas confecções, o item mais importante da pauta,
os produtos dessa matéria-prima responderam por 76,5%; nos tecidos, por 78,1%;
nas fibras, 63,4%; e no fios, por 61,1%. As menores contribuições do algodão
foram em outras manufaturas, em torno de 9% (figura 1). Figura 1 – Exportações da cadeia têxtil e confecção1 e de artigos de algodão, Brasil, 2003 No
primeiro quadrimestre de 2004, as exportações de têxteis e confecções somaram
US$580,2 milhões, com incremento de 22,1% em comparação com as do mesmo período
do ano passado. Em face das importações, de US$473,9 milhões, manteve-se,
portanto, o quadro superavitário no período. TABELA 1 – Exportações da cadeia têxtil e confecção1, Brasil, Janeiro a Abril de 2003 e Janeiro a Abril
de 2004 Considerações finais Depois
de figurar como um dos principais itens da pauta de importações, o algodão
tem-se destacado tanto nas exportações como matéria-prima quanto em
manufaturados, especialmente nos de maior valor agregado. 1 BARBOSA, M.Z.; NOGUEIRA JUNIOR, S; FREITAS, B.B. Comércio exterior brasileiro de têxteis e confecções: a contribuição da fibra de algodão. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 4, 2003, Goiânia, GO. Anais... Goiânia: EMBRAPA Algodão, 2003. [CD-ROM].
O algodão tem exercido forte influência sobre o comportamento da balança comercial têxtil, pois no período em que se registraram as mais elevadas importações da fibra, entre 1992 e 1997, o saldo comercial passou de um superávit de US$956 milhões para um déficit de US$1,1 bilhão. Nesse período, a mais modesta participação relativa da fibra de algodão no valor total importado foi da ordem de 24% em 1995, após ter alcançado 55% em 19931.
Ainda que a desvalorização cambial em 1999 tenha influenciado o declínio das
importações de produtos de toda a cadeia produtiva, a recente expansão da
produção brasileira de algodão, a conseqüente redução da dependência de
internalizações dessa fibra - principal matéria-prima da indústria têxtil - e a
retomada das exportações contribuíram para a recuperação do superávit do setor.
A produção brasileira de algodão em pluma, entre 1998 e 2003, passou de 411,0 mil para 847,5 mil toneladas, com acréscimo, portanto, de 106,2%, enquanto as importações foram reduzidas a um terço no período, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)2.
Em recente estudo3 sobre o comércio exterior da
cadeia de têxteis e confecções, verificou-se que entre 1999 e 2001 as
exportações totais apresentaram crescimento de 13,7% ao ano, enquanto as
importações foram reduzidas a 7,6% a.a.. A mesma pesquisa revela que o algodão
foi o item que apresentou a mais elevada taxa de crescimento nas exportações, de
42,3% a.a., e o mais acentuado declínio nas importações, de 44,1% a.a..
(US$ milhão FOB)
1 As exportações totais
incluem filamentos artificiais e sintéticos, no valor de US$72,8 milhões.
Fonte: Elaborada a partir de dados de Secretaria de Comércio Exterior (SECEX)4, divulgados em Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT)5
Os artigos de algodão, de janeiro a abril deste ano, predominaram com 57,4% do
total exportado. Entre eles, destaca-se o crescimento de 70% nas exportações da
fibra de algodão. Nos segmentos dos tecidos e das confecções, as contribuições
dessa matéria-prima foram as mais elevadas, com o equivalente a 74,2% e 72,3%,
respectivamente (tabela 1).
(US$ milhão FOB)
1 As exportações
totais incluem filamentos artificiais e sintéticos, de US$23,3 milhões em 2003 e
de US$23,4 milhões em 2004 Item
(a)
(b)
(c)
(d)
(c/d) Fibras Fios Tecidos Confecções Outros Total
Fonte: Elaborada a partir de dados de Secretaria de Comércio Exterior (SECEX)4, divulgados em Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT)5
O crescimento nas exportações da fibra de algodão reflete o retorno do Brasil ao papel de exportador, posto que para 2004 prevê-se que as exportações devam alcançar 440,0 mil toneladas2. Trata-se da maior
quantidade desde há pelo menos duas décadas, quando o país deixou de participar
como ofertante no mercado mundial. A produção recorde, prevista em 1,240 milhão
de toneladas em 2003/04, deverá contribuir para a consolidação dessa
expectativa.
Por outro lado, o consumo brasileiro de algodão não deverá crescer nas mesmas proporções, tendo em vista que as 826,0 mil toneladas (7% maior) configuram uma recuperação da demanda interna, uma vez que ainda deve ficar aquém do uso industrial verificado entre 2000 e 20012.
Nesse cenário, como a demanda interna por manufaturados têxteis está relacionada à dinâmica da economia, por ser condicionada pelo ritmo de crescimento do emprego e dos salários6, a maior utilização
industrial de algodão poderá ser revertida às exportações de manufaturados que
têm por base essa matéria-prima, em lugar da demanda doméstica por esses
produtos.
2 CONAB: www.conab.gov.br
3 PROCHNIK, V. A cadeia têxtil/confecções perante os desafios da ALCA e do acordo comercial com a União Européia. Economia, Niterói, RJ, v.4, n.1, p.53-83,
jan./jun. 2003.
4 SECEX/MDIC: www.mdic.gov.br
5 ABIT: www.abit.org.br
6 SOARES, P.M. Abertura comercial: setor têxtil por um fio – avaliação dos impactos do processo de abertura comercial sobre o setor têxtil e as estratégias de adaptação. Dissertação de Mestrado, FGV, SP, 1994.
Data de Publicação: 20/05/2004
Autor(es): Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor