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Potencial do mercado de produtos agrícolas orgânicos do Japão
Atualmente, há forte preocupação de boa parte dos consumidores e do Estado japonês para com a segurança alimentar. É o que mostrou o Seminário sobre Exportação de Produtos Agrícolas Orgânicos para o Japão, realizado, em março de 2004, pela Japan External Trade Organization (JETRO)1 com o apoio da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (APEX)2 e do SEBRAE-SP3. Compareceram ao evento cerca de 150 pessoas representando os mais variados
setores com interesse na produção agrícola orgânica. O mercado japonês
Segundo informação da representante da APEX, entidade que apóia a exportação de
produtos orgânicos para o Japão, o mercado japonês de alimentos alcançou em 2000
cerca de 11 trilhões de dólares, dos quais 40% são provenientes da produção
interna e 60% de importados. Informou que, segundo os especialistas japoneses, a
taxa de produção interna de alimentos vai cair 5% em 10 anos como decorrência do
envelhecimento da população e da evasão da mão-de-obra do campo; apesar de que o
governo está tomando medidas para evitar que isso ocorra. Os principais
exportadores para o Japão são ao Estados Unidos e a China. Tabela 1 - Oferta de produto agrícola certificado, abril 2001-março 2002 Na
tabela 2, apresenta-se a oferta de produtos processados certificados no Japão.
Tabela 2 - Oferta de produto processado certificado, abril
2001- março 2002 Segurança alimentar A
agricultura japonesa apresenta um histórico de uso intenso de agroquímicos e
aditivos alimentares que boa parte dos consumidores associa a doenças. Por outro
lado, há um forte movimento de consumidores em direção ao consumo de produtos
sem o uso de agroquímicos ou pelo menos com uso mais reduzido. Certificação e exportação O
governo japonês tem reconhecido as legislações de Estados Unidos, União Européia
e Austrália, entre outros países, como equivalentes à sua, enquanto a da
Argentina está sendo estudada. A legislação brasileira, recém-aprovada em
dezembro de 2003, ainda não foi motivo de análise. Rede de distribuição No
Japão, a cadeia de distribuição vai da produção, passando por indústria,
fracionadores e importadores, até lojas especializadas, restaurantes e cafés.
Potencial de exportação O
potencial para exportação de produtos processados orgânicos do mundo para o
Japão abrange: cogumelos secos; cereais; misturas de cereais com granola; sal;
água mineral; gergelim; molhos; condimentos; temperos; chocolates; comidas
preparadas; açúcar; café; castanha de caju; soja; erva mate; guaraná; conservas
de vegetais; palmito; óleo de dendê e palma; carne bovina; carne de frango;
camarão; e mel e derivados. Tabela 3 – Preços pagos pelo consumidor em yens por
produtos orgânicos (dólar estimado em 113 yens e em 3 reais), maio de 2004
A
representante da APEX considera que as maiores chances de exportação por parte
do Brasil estão centradas nos seguintes produtos: sucos e polpas de frutas;
carne bovina; óleo de palma; guaraná; açúcar; palmito e grãos. Entre as maiores
dificuldades a serem enfrentadas pelas empresas que desejam exportar para o
Japão, cita as diferenças culturais e das tradições japonesas no comércio; o
desconhecimento de normas, regulamentos e legislação japonesas; logística e
embalagens e distribuição dos produtos no Japão; preços e documentos de
exportação e hábitos e costumes dos japoneses. 1 JETRO: www.jetro.go.jp
Este novo cenário eleva o potencial do mercado de produtos agrícolas orgânicos no Japão, o que pode ser aferido por uma pesquisa feita com visitantes da feira BIOFACH4, realizada em Tóquio em 2003. Cerca de 60% das pessoas ouvidas afirmaram
ter reais possibilidades de importar produtos orgânicos do Brasil,
principalmente café, açúcar, cachaça e palmito. Foi dito no seminário que o
Japão é um imenso e atraente mercado, mas não apenas para os produtos orgânicos.
Durante o evento, foi sugerido que os exportadores brasileiros devam verificar
as preferências e os gostos do consumidor japonês, antes de pensar em exportar
para aquele país. Os produtos devem ser compatíveis com os costumes dos
japoneses que são bem diferentes dos ocidentais.
O mercado de produtos orgânicos e de conservação ambiental no Japão alcança
atualmente cerca de 7 bilhões de dólares/ano. A produção interna ou doméstica
chega a apenas 450 milhões de dólares. A taxa de crescimento anual é estimada
pelos japoneses em 20%.
Os principais produtos orgânicos consumidos são laticínios, frutas/legumes,
grãos, carnes, bebidas, comidas preparadas e condimentos. A tabela 1 retrata a
oferta de produtos agrícolas certificados no Japão.
Fonte : Ministério de Agricultura Silvicultura e Pesca do Japão Produtos Produção no Japão Importação Legumes 19675 26221 Frutas 1391 4085 Arroz 7777 2672 Trigo 722 2058 Soja 1162 61019 Chá verde 927 93 Outros 281 58493 Total 33724 154642
Fonte : Ministério de Agricultura Silvicultura e Pesca do Japão Produtos/toneladas Produção no Japão Importação Vegetais congelados 1128 11826 Vegetais em conserva 13 532 Bebidas 4739 64664 Tofu e nato 54184 0 Missô e shoyu 21862 273 Massas 103 823 Outros 11609 20224 Total 93638 98342
Obter uma alimentação mais saudável é o foco de boa parte dos clientes, pois
estudos japoneses demonstram que a origem de muitos problemas de saúde é
decorrência da ingestão de resíduos de agrotóxicos nos alimentos convencionais.
Os produtos originários da China, largamente importados, são considerados muito
contaminados. Está havendo uma mudança dos hábitos alimentares no Japão. Em
decorrência, o Estado está fortalecendo a estrutura que regula a produção, a
comercialização e o processamento de orgânicos.
Esse tipo de consumo teve origem num movimento iniciado nos anos 70, que buscava
alimentos mais saudáveis. O perfil do consumidor japonês foi sintetizado da
seguinte forma: sua percepção sobre alimentos orgânicos está relacionada com o
cuidado com a saúde, qualidade de vida e longevidade, a conservação ambiental e
benefícios sociais dos trabalhadores. A maioria é formada de pessoas da classe
média alta e donas-de-casa com idade entre 30 e 50 anos. O cuidado com a saúde é
determinante na sua decisão de compra. Esse consumidor está disposto a pagar até
20% a mais no preço do produto.
As exigências do consumidor compreendem o aspecto visual associado a qualidade
intrínseca, sabor, informações adicionais sobre o produto, origem do produto e
até mesmo sua história, tipo e tamanho da embalagem e selos de certificação.
Entretanto, de forma geral, o consumidor não conhece com detalhes a diferença
entre os produtos orgânicos e os convencionais.
A certificação no Japão tem que ser feita via Ministério de Agricultura daquele
país. Há 66 certificadoras japonesas. Existem certificadoras brasileiras que se
relacionam com algumas certificadoras japonesas. Há, portanto, diferenças no
tratamento das certificadoras de países com equivalência reconhecida, em relação
às originárias de países que não o são.
As exigências para a certificação, de modo geral, referem-se a gestão de
qualidade ISO, métodos específicos de plantio, controle natural de pragas e
doenças, insumos controlados e sementes de origem controlada e, principalmente,
a garantia de rastreabilidade da produção e da comercialização.
Na cadeia de suprimento da produção doméstica orgânica, cerca de 18% são produzidos no país, a maior parte em
pequenas propriedades, e a comercialização baseia-se fundamentalmente na relação
de confiança entre o produtor e o comerciante. É comum a venda no pré-plantio
com base no plano de cultivo estabelecido de comum acordo; ou seja, a produção
já é vendida antes de ser produzida.
Quanto aos produtos orgânicos industrializados, cerca de 48% da oferta são de
origem doméstica, sendo que deste percentual 39% se referem a produtos como
tofu, nato, missô e shoyu (tabela 2). Considera-se que países como o Brasil têm
maior chance de exportar produtos com maior valor agregado devido à distância.
A cadeia de lojas tem cerca de 66 mil associados e 2.500 fornecedores, com um
faturamento em 2002 de cerca de 115 milhões de dólares. Uma marca de produtos
orgânicos muito conhecida, a Oragani & Fair, atinge cerca de 3 milhões de
dólares anuais em vendas de produtos processados.
Com relação aos importadores, destaca-se a necessidade de que o importador
visite o fornecedor e vice-versa, pois no Japão esse tipo de relação é
importante principalmente no setor de orgânicos. A comercialização dá-se via
grandes redes de pequenas lojas e também via redes de grandes lojas
Também é considerado importante no Japão o consumo de produtos orgânicos via
restaurantes.
Em relação aos preços pagos em yens pelo consumidor japonês por produtos
orgânicos, apresentam-se alguns exemplos na tabela 3.
Fonte : Ministério de Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão Propolis candy 40 balas 1800 Arroz integral 1kg 1380 Shitake seco 50g 680 Camarão 200g 1200 Mel 250g 800 Granola 368g 780 Pepino em conserva 500ml 720 Açúcar 400g 420 Ervas para tempero 20g 480
2 APEX: www.apexbrasil.org.br
3 SEBRAE-SP: www.sebraesp.com.br
4 BIOFACH: www.planetaorganico.com.br/venjakob.htm
Data de Publicação: 13/05/2004
Autor(es): Richard Domingues Dulley Consulte outros textos deste autor