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Vale do Ribeira: Educação Profissional e Desenvolvimento
O Vale
do Ribeira já foi objeto de inúmeras pesquisas e estudos realizados ao longo das
gestões das diversas administrações do governo paulista nas ultimas três
décadas, o que demonstra o interesse para com essa região, mas também mostra a
ineficiência do planejamento e das ações. Um dos temas dos diagnósticos e das
propostas voltados para o desenvolvimento do Vale foi o da educação
profissional. Política de baixo custo
Segundo o diagnóstico obtido na região, pouco valerão todos os esforços visando
adequar os currículos dos cursos profissionalizantes das ETEs, se não forem
tomadas providências que viabilizem a aplicação imediata, após a formatura, dos
conhecimentos adquiridos a duras penas pelo alunos, como resultado do imenso
esforço dos professores e do Estado; se todo esse trabalho de base não for
complementado com medidas de apoio que permitam tornar realidade os objetivos
dos jovens, dos professores, dos governos e das comunidades locais. 1 Desenvolvido em parceria com a Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados - SEADE, com recursos do Programa de Expansão da
Educação Profissionalizante - PROEP (25% Ministério da Educação, 25% Ministério
do Trabalho e 50% Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID).
A pesquisa 'Estudos de Mercado de Trabalho como Subsídios para a Reforma da Educação Profissional no Estado de São Paulo', desenvolvida no segundo semestre de 20031, traçou um perfil da estrutura produtiva
do espaço rural do Estado de São Paulo de forma regionalizada para subsidiar a
reformulação da educação profissional.
A pesquisa identificou que a maioria dos alunos formados pelas escolas técnicas
(ETEs) na região, por não encontrarem emprego na sua área de conhecimento,
acabam abandonando-a ou migrando para outras regiões que ofereçam maiores e
melhores oportunidades.
Nesse sentido, não basta o ensino técnico profissional adaptar-se às novas
características especificas da região, mas também fazem-se necessárias políticas
públicas que potencializem o capital humano formado pela ETE. A inexistência
desse tipo de política levará, como alias já vem levando, a um grave desperdício
de esforços educacionais e das ações que visam desenvolver econômica e
socialmente a região.
A situação peculiar do Vale do Ribeira destacou-se por ser uma das regiões menos
desenvolvidas do Estado e pela necessidade de conviver com restrições ambientais
que ultrapassam em muito as das demais regiões. Ao mesmo tempo, de certa forma,
essas restrições, se bem compreendidas e trabalhadas pelo Estado e comunidades,
podem transformar-se em fator favorável ao desenvolvimento.
As adaptações dos currículos das ETEs pesquisadas mostraram-se adequadas ao
perfil do técnico de nível médio requisitado, uma vez que estão coerentes com o
papel da ETE no desenvolvimento e sustentabilidade das atividades produtivas e
das comunidades locais, mas não são suficientes para dar inicio ao almejado
processo de desenvolvimento no qual o papel da educação sempre se mostra
importante.
Em casos como o do Vale do Ribeira, onde aspectos ambientais destacam e
estimulam, embora limitem, o desenvolvimento regional e a agropecuária, a ETE
oferece formação compatível: agropecuária, turismo, ambiental, hotelaria.
Uma política ligada aos investimentos já realizados na educação, que aproveite o
conhecimento dos formados, como promotores de desenvolvimento local, promovendo
em seus locais de origem o repasse dos conhecimentos para as comunidades, pode
resultar em eficiência e objetividade aos projetos regionais, de maneira a
estimular principalmente as regiões mais pobres do estado de São Paulo.
Grande parte dos profissionais formados desloca-se para outras regiões ou atuam
fora de sua área de formação, apesar da sua necessidade. Assim, seriam oportunas
políticas públicas que garantissem a permanência dos formandos nos seus locais
de origem ou pelo menos na região.
O investimento do Estado na formação profissional poderia resultar
simultaneamente em oportunidade de ascensão social aos jovens e em
desenvolvimento para a região, não havendo desperdício da capacitação técnica.
Para tanto, uma alternativa levantada é viabilizar o retorno do técnico aos seus
locais de origem, através de um mecanismo de manutenção econômica que poderia
ser concretizado via um dos programas já existentes relacionados ao oferecimento
de oportunidade para um primeiro emprego.
Trata-se de uma política de baixo custo que simultaneamente oferece uma primeira
oportunidade de trabalho ao jovem recém formado, difunde os conhecimentos
obtidos pelos alunos em suas diferentes áreas de formação e concretiza os
objetivos iniciais da formação profissional como ferramenta do desenvolvimento
regional. Apenas de forma ilustrativa, pode-se calcular, para uma turma de 30
formados recebendo bolsa de um salário mínimo, um investimento anual de apenas
R$ 86.400,00. Supondo que os 30 alunos fossem uniformemente distribuídos na
região, cerca de 30 locais seriam beneficiados com a difusão de conhecimentos
necessários à região.
A administração desse trabalho poderia ficar afeta à própria ETE, com parcerias
diversas, que poderiam incorporar, ainda, atividades para os alunos de acordo
com as suas respectivas áreas de estudo, potencializando o aprendizado e o
trabalho dos bolsistas recém-formados com essa integração.
Data de Publicação: 10/05/2004
Autor(es):
Ana Victoria Vieira Martins Monteiro (ana.monteiro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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