O hábito de consumir café alcança sua suprema instância sob o preparo espresso. Essa é, verdadeiramente, a forma mais nobre de se apreciar com prazer as sutilezas gustativas e as notas aromáticas presentes nessa bebida.
            Ao realizar-se pequeno esforço de digressão histórica, constata-se que foi somente a partir de meados da década de 90 que o hábito do consumo de café espresso tornou-se menos extraordinário ou raro para o júbilo dos apaixonados pela máxima excelência na xícara. Graças ao espírito empreendedor dos brasileiros, produziu-se uma mudança no mercado de café, qual seja: a propagação da oferta da bebida sob essa forma de preparo. Sem perder o requinte que o momento enseja, construiu-se uma nova e salutar preferência. Para muitos daqueles que já presenciaram o espetáculo da floração do cafeeiro, o aludido florescimento do espresso soa como que marcha triunfal.
            Distanciando-nos cada dia mais da situação de 'mesquinhez' de oferta, novos apreciadores juntam-se carinhosamente a esse hábito original. Consumir xícaras de espresso durante a jornada de trabalho, além de torná-la menos aborrecida, propicia momento de descontração e de desejado convívio social. Tem sido por meio das cafeterias que o café vem recuperando sua principal característica que é, em essência, ser uma bebida agregativa, estimular o cérebro e desenvolver o gosto pela conversação. Constitui, enfim, em elemento de sociabilidade, concedendo espírito a quem o bebe.
            Sagazes empreendedores lançaram-se na aventura de estabelecer refinados pontos para a degustação da bebida. Como resultado, verificou-se o crescimento do número de cafeterias com bons espressos, em que se sobressaem a busca pela qualificação do capital humano e a aquisição de lotes de cafés superiores e gourmet. Essas lojas de café recuperaram o antigo status de locais nobres e valorizados nos quais a freqüência contribui, inclusive, para a promoção da reputação pessoal, ainda que fútil, porém em voga na atualidade.
            Para além da almejada fama, existem, sim, características que distinguem as pessoas com o estilo espresso. Em linhas gerais, trata-se de consumidor exigente, com altos níveis de renda e escolaridade, muitos deles freqüentadores de bons restaurantes e de shopping centers. O espresso não é bebida exclusiva de um dos gêneros; embora a participação de consumidores do sexo masculino seja ligeiramente maior do que a do feminino, eles tendem a se equiparar quando aumenta a qualidade da bebida e a sofisticação do ambiente.
            Espressos de boa qualidade podem ser encontrados em restaurantes de média e alta gastronomia. Afinal, não se aceitaria estragar o encerramento de uma lauta refeição com uma bebida que não trouxesse memoráveis recordações. Também, nos shopping centers, notadamente naqueles com mais alto preço por metro quadrado de espaço de locação, o percentual de xícaras satisfatórias é mais alto, bem como o de operadores qualificados de máquinas de espresso.
            Quesitos de naturezas diversas influenciam a obtenção de uma xícara satisfatória - definida como aquela em que o tempo de preparo é adequado (25-35 segundos) e o creme é espesso e persistente (2 minutos ou mais). O principal deles é a pessoa que opera a máquina de espresso, isto é, o encarregado de preparar a bebida.
            Pesquisas recentes indicam que, considerando o conjunto desses fatores, apenas uma em cada quatro xícaras servidas em São Paulo pode ser considerada satisfatória. Todavia, quando o operador é um verdadeiro barista, o percentual de xícaras satisfatórias cresce consideravelmente. Adicionalmente, se o grão utilizado puder ser classificado entre os de melhor qualidade, esse percentual alcança quase 90%!
            Ao desbancar o preparo da bebida em coador, servida em miseráveis copos de vidro, a conquista da preferência pelo espresso entre os consumidores permite que o esmero para com as práticas de cultivo na lavoura possa ser apreciada com plena exatidão na xícara. Ademais, a garantia de que novas experiências sensoriais formarão uma nova era de bonança consiste no empenho em propiciar mais e melhores informações aos consumidores, ávidos pelo precioso líquido preparado com o sortimento variado de 'Cafés do Brasil'.

Publicado na Revista Espresso - Coluna Café - Edição 4 - Outubro 2004