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Mercado de máquinas agrícolas automotrizes: alta dos insumos estratégicos
As
vendas de máquinas agrícolas automotrizes fecharão 2003 com desempenhos díspares
nos mercados interno e externo. O ano se encerrará com substancial queda nas
vendas destinadas ao mercado interno, tanto para tratores (- 10,3%) quanto para
colhedoras (-2,3%), embora a existência de programas de financiamento público
para o segmento, como o MODERFROTA e o Finame-agrícola, tenha sido essencial no
salto de patamar em termos de números de unidades produzidas (de 44,3 mil em
2001 para 55,5 mil em 2003 – esse último apenas de janeiro a novembro). TABELA 1 - Produção, vendas e exportação de máquinas agrícolas automotrizes1, Brasil, 2001 e 2002 e
janeiro a novembro de 2002 e 2003
Espera-se que 2003 encerre com mais de 60 mil máquinas produzidas. Entre
tratores e colhedoras, estima-se que 41 mil máquinas sejam comercializadas
(ligeiramente inferior a 2002), refletindo não apenas a disponibilidade de
crédito de financiamento (cerca de R$ 3,3 bilhões entre 2003 e 2004) como também
o particular momento em que situa a agropecuária brasileira que exibe
espetacular desempenho. FIGURA 1 – Comparativo entre a evolução dos índices de
preços do ferro, aço e derivados e dos preços das máquinas agrícolas, 1999 a
set.2003
Por outro lado, as exportações de máquinas agrícolas fecharam o ano exibindo
espetacular salto, com mais de 100% de crescimento. Será somente graças a esse
notável desempenho das exportações que a produção e as vendas de máquinas
agrícolas fecharão o ano com significativo crescimento (tabela 1).
(em unidade)
1 Inclui cultivador motorizado,
trator de esteira, trator de roda, colhedora e retroescavadeiras. Item
*100
*100 Trator
de roda Produção 34.781 40.352 38.133 44.111 16,0 15,7 Vendas no mercado
interno 28.203 33.217 31.406 28.171 17,8 -10,3 Exportação 5.814 7.945 7.169 14.795 36,7 106,4 Total das vendas 34.017 41.162 38.575 42.966 21,0 11,4 Colhedoras Produção 5.196 6.851 6.128 8.415 31,9 37,3 Vendas no mercado
interno 4.098 5.648 5.100 4.981 37,8 -2,3 Exportação 1.202 1.199 1.068 2.871 -0,2 168,8 Total das vendas 5.300 6.847 6.168 7.852 29,2 27,3 Máquinas agrícolas1 Produção 44.339 52.010 48.821 55.456 17,3 13,6 Vendas no mercado
interno 35.523 42.568 39.966 36.023 19,8 -9,9 Exportação 8.246 10.443 9.479 19.107 26,6 101,6 Total das vendas 43.769 53.011 49.445 55.130 21,1 11,5
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (ANFAVEA).
Para 2004, o segmento espera superar o resultado de 2002, quando foram
comercializadas 42,6 mil máquinas. Esse otimismo decorre em parte do
reconhecimento da capacidade empreendedora dos empresários rurais brasileiros.
Os bons resultados financeiros obtidos com as principais culturas deverão
desempenhar destacado papel no esforço de modernização do parque de máquinas
agrícolas em atuação no País. Importante também é a tendência de incremento da
potência dos modelos demandados que permite maiores flexibilidade de tarefas e
desempenho operacional.
A retomada mais acelerada das vendas no mercado interno de forma alguma
arrefecerá as exportações. A abertura de novos mercados, o retorno do
crescimento econômico argentino e a expansão das filiais brasileiras das
montadoras de máquinas são indicativos de que as transações internacionais
tendem a ampliar sua participação no faturamento do segmento.
Em 2003, as exportações de tratores e colhedoras somaram US$ 850 milhões, com
crescimento de 31% em relação aos US$ 648,8 milhões de 2002. Em 2004, é provável
que as exportações superem o patamar de um bilhão de dólares, posicionando o
segmento como um dos mais dinâmicos exportadores de bens de alto valor agregado
na pauta brasileira e por esse fato estratégico.
Um aspecto que tem incomodado todo o setor (principalmente governo e produtores
rurais), podendo arrefecer as expectativas para o próximo ano, consiste no
aumento substancial dos preços das máquinas agrícolas desde a criação do
MODERFROTA. Desde o início do referido programa de financiamento (em meados de
1999), o índice de preços de máquinas agrícolas contabilizado pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV) mais que dobrou (de 143 na média do segundo semestre de
1999 para 304 em setembro de 2003). Uma vez descontado o crescimento do IGP-DI
no período (69,7%), as máquinas agrícolas tiveram crescimento real de 43%.
Embora não seja uma hipótese testada e comprovada, o governo federal, ao tornar
disponível uma linha de crédito a taxas e prazos facilitados, permitiu a essa
indústria uma relativa margem para movimentar seus preços. Ao se consultar a
mesma fonte para o índice de ferro, aço e derivados e se estabelecer uma
correlação entre esse índice e o de máquinas agrícolas, porém, constata-se que
se tratam de curvas siamesas, ou seja, a evolução do índice de preços de um é
imediatamente seguida pela do outro. De fato, a correlação existente entre os
índices supera os 98%, indicando com segurança que o comportamento do índice do
ferro, aço e derivados explica a trajetória do índice de máquinas agrícolas
(figura 1).
Segundo a ANFAVEA1, o preço do aço perfaz cerca
de 20% do custo de produção de um veículo. Construindo uma estimativa própria, é
possível que no segmento de máquinas agrícolas esse percentual alcance algo como
30% do custo final do equipamento, tratando-se possivelmente do item de maior
peso na pauta de insumos das montadoras. É em razão dessa característica que um
aumento nos preços do aço se reflete imediatamente nos preços das máquinas.
Em 2003, a elevação no preço do aço deve alcançar 38% 2. Frente a tal majoração, as montadoras de máquinas
agrícolas prevêem novos aumentos em seus produtos ao início do próximo ano. Esse
fato pode começar a repercutir negativamente sobre a competitividade
internacional alcançada pelo segmento e sobre os índices de inflação domésticos.
Atentas a essa problemática, autoridades do governo federal prometem baixar a
partir de 2004 a alíquota de importação de 20 tipos de aço pelos próximos seis
meses (prorrogável por outros seis) com o intuito de aumentar a competição nesse
insumo estratégico.
Fonte: Conjuntura Econômica,
FGV (1999 a 2003 vários números).
Agosto de 1994 = base
100.
Desde a criação do MODERFROTA, o segmento de máquinas agrícolas automotrizes robusteceu-se. Os mais elevados patamares de produção e vendas, além do maior conteúdo tecnológico dos equipamentos, fizeram desse segmento uma importante indústria no País. No momento atual, compete aos atores envolvidos nesse complexo de atividades harmonizar seus interesses visando construir vantagens para todos os participantes (fornecedores, montadoras, governo e produtores rurais). Na realidade, é desse investimento que o momento carece.
1 ANFAVEA: www.anfavea.com.br
2 FACCHINI, C. et al. Preços do plástico sobrem 15% e commodities mantêm-se em alta. Jornal Valor Econômico, Caderno Empresas, B1. 19 dez.2003.
Data de Publicação: 30/12/2003
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor