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Feijão: Perspectivas Para A Safra Das Águas 2002/03 No Estado De São Paulo
Em
agosto, inicia-se oficialmente a época de plantio de feijão das águas no Estado
de São Paulo, cuja safra se estende até outubro. Um dos fatores que pesa na
decisão de plantio, além dos custos de produção, da disponibilidade de
financiamentos agrícolas e dos preços relativos dos produtos que concorrem pela
mesma área, é o nível de preços vigentes nos meses que antecedem o plantio,
afetando a decisão de qual (e, principalmente, de quanto do) produto cultivar na
área disponível. Assim, a questão que se coloca é: com um mercado de feijão
atraente nos últimos meses para os produtores nacionais, de maneira geral, qual
será a decisão dos produtores paulistas em relação à nova safra?
Os preços médios diários recebidos pelos produtores paulistas, favoráveis desde
meados de junho, atingiram na última semana deste mês o valor de R$92,50 a saca
de 60 quilos. O preço médio mensal em agosto (entre os dias 2 e 23) foi de
R$69,62/sc., enquanto que em julho alcançou R$82,74/sc., nível que ocorre, em
termos históricos, nos momentos de escassez significativa (figura 1).
Considerando o período 1996-2002, os preços médios mensais, em valores deflacionados pelo IPCA de julho de 2002, em junho (R$72,07/sc.), julho (R$82,74/sc.) e agosto1 (R$69,62/sc.) deste ano ficaram aquém apenas dos preços vigentes nos mesmos meses de 1998, ano de mercado atípico, marcado pela escassez devido à ocorrência do El Niño 1997-98, um dos mais intensos do século XX e que afetou a primeira e principalmente a segunda safra de feijão da Região Norte/Nordeste com severa estiagem. Após o desempenho desastroso de 2000, sobretudo no primeiro semestre, o mercado de feijão para os produtores paulistas voltou a ser satisfatório em 2001, com os preços médios recebidos pelos produtores variando de R$49,81 (em dezembro) a R$76,05 (em março). Em 2002, o menor preço médio mensal observado foi de R$52,10 em fevereiro, mesmo assim 76% acima do obtido no mesmo mês de 2000 (figura 2).
Na safra das águas 2001/02,. plantaram-se, no Estado de São Paulo, 77,8 mil hectares de feijão, com 122,5 mil toneladas de produção, segundo o levantamento IEA/CATI. Nos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Itapeva, Avaré e Itapetininga, concentram-se cerca de 82% da produção na safra das águas em 78% da área total do Estado (mapas 1 e 2). No EDR de Itapetininga, destaca-se também o índice de produtividade, de 2.072 quilos por hectare, atrás apenas de Barretos, com 2.227 kg/ha (mapa 3).
Mapa 1
Mapa 2
Mapa 3
Em termos nacionais, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) estimou ampliação de 7,9% na área total de feijão (três safras) plantada em 2001/02, em relação ao ano anterior, e aumento para 3,0 milhões de toneladas na produção, correspondente a 16,1%, conforme o levantamento realizado no período de 12 a 18 de maio. A estimativa da produção da primeira safra 2001/02 no país é de 1,327 milhão de toneladas, com aumento de 14,9% em relação à safra anterior; a estimativa da segunda safra no país é de 1,065 milhão de toneladas, com 23,3% de aumento em relação à de 2000/01; e, finalmente, a terceira safra tem aumento de produção previsto de 7,8% em relação ao ano anterior, com previsão de 616 mil toneladas. O aumento previsto de 4,6% na produtividade, neste caso, poderá não se concretizar dados os problemas climáticos ocorridos em Estados como Bahia, Piauí, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, entre julho e agosto2 (tabelas 1, 2 e 3).
Tabela 1 - Comparativo de Área, Produção e Produtividade de Feijão, Primeira Safra, por Região, Brasil, 2000/01 e 2001/02
Estado e Região | Área (em mil ha) | Produção (em mil t) | Produtividade (kg/ha) | ||||||
2000/01 | 2001/02 | Var (%) | 2000/01 | 2001/02 | Var (%) | 2000/01 | 2001/02 | Var (%) | |
Tocantins | 2,0 | 2,0 | - | 0,7 | 0,8 | 14,3 | 360 | 390 | 8,3 |
Norte | 2,0 | 2,0 | - | 0,7 | 0,8 | 14,3 | 350 | 400 | 14,3 |
Bahia | 368,5 | 423,8 | 15,0 | 129,7 | 194,9 | 50,3 | 352 | 460 | 30,7 |
Nordeste | 368,5 | 423,8 | 15,0 | 129,7 | 194,9 | 50,3 | 352 | 460 | 30,7 |
Paraná | 334,0 | 390,8 | 17,0 | 344,7 | 453,3 | 31,5 | 1.032 | 1.160 | 12,4 |
Santa Catarina | 112,0 | 115,4 | 3,0 | 134,4 | 117,7 | -12,4 | 1.200 | 1.020 | -15,0 |
Rio Grande do Sul | 117,9 | 124,4 | 5,5 | 119,1 | 114,4 | -3,9 | 1.010 | 920 | -8,9 |
Sul | 563,9 | 630,6 | 11,8 | 598,2 | 685,4 | 14,6 | 1.061 | 1.087 | 2,5 |
Minas Gerais | 203,1 | 219,3 | 8,0 | 211,2 | 218,2 | 3,3 | 1.040 | 995 | -4,3 |
Espirito Santo | 11,0 | 12,1 | 10,0 | 8,3 | 9,0 | 8,4 | 750 | 740 | -1,3 |
Rio de Janeiro | 3,4 | 2,9 | -15,0 | 2,5 | 2,2 | -12,0 | 735 | 760 | 3,4 |
São Paulo | 78,0 | 85,0 | 9,0 | 107,6 | 117,3 | 9,0 | 1.380 | 1.380 | - |
Sudeste | 295,5 | 319,3 | 8,1 | 329,6 | 346,7 | 5,2 | 1.115 | 1.086 | -2,6 |
Mato Grosso | 5,0 | 3,9 | -22,0 | 3,0 | 4,3 | 43,3 | 600 | 1.100 | 83,3 |
Mato Grosso do Sul | 1,5 | 2,9 | 90,0 | 1,7 | 2,8 | 64,7 | 1.150 | 980 | -14,8 |
Goiás | 40,0 | 42,8 | 7,0 | 74,0 | 73,6 | -0,5 | 1.850 | 1.720 | -7,0 |
Distrito Federal | 8,7 | 9,1 | 5,0 | 18,8 | 19,1 | 1,6 | 2.161 | 2.100 | -2,8 |
Centro Oeste | 55,2 | 58,7 | 6,3 | 97,5 | 99,8 | 2,4 | 1.766 | 1.700 | -3,7 |
Norte/Nordeste | 370,5 | 425,8 | 14,9 | 130,4 | 195,7 | 50,1 | 352 | 460 | 30,7 |
Centro-Sul | 914,6 | 1.008,6 | 10,3 | 1.025,3 | 1.131,9 | 10,4 | 1.121 | 1.122 | 0,1 |
Brasil | 1.285,1 | 1.434,4 | 11,6 | 1.155,7 | 1.327,6 | 14,9 | 899 | 926 | 3,0 |
Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
Tabela 2 - Comparativo de Área, Produção e Produtividade de Feijão, Segunda Safra, por Região, Brasil, 2000/01 e 2001/02
Estado e região | Área (em mil ha) | Produção (em mil t) | Produtividade (kg/ha) | ||||||
2000/01 | 2001/02 | Var (%) | 2000/01 | 2001/02 | Var (%) | 2000/01 | 2001/02 | Var (%) | |
Roraima | 0,5 | 0,5 | - | 0,2 | 0,2 | - | 300 | 300 | - |
Rondonia | 91,2 | 76,6 | -16,0 | 52,3 | 48,3 | -7,6 | 574 | 630 | 9,8 |
Acre | 21,5 | 12,5 | -42,0 | 11,2 | 13,4 | 19,6 | 520 | 1.070 | 105,8 |
Amazonas | 9,0 | 5,0 | -45,0 | 7,5 | 4,2 | -44,0 | 835 | 835 | - |
Amapá | 1,3 | 1,3 | - | 0,5 | 0,8 | - | 400 | 615 | 53,8 |
Parará | 72,7 | 71,2 | -2,0 | 50,5 | 52,0 | 3,0 | 695 | 730 | 5,0 |
Tocantins | 3,3 | 3,3 | - | 1,1 | 1,6 | 45,5 | 340 | 478 | 40,6 |
Norte | 199,5 | 170,4 | -14,6 | 123,3 | 120,5 | -2,3 | 618 | 707 | 14,4 |
Manaus | 77,0 | 51,6 | -33,0 | 36,2 | 21,7 | -40,1 | 470 | 420 | -10,6 |
Piauí | 197,9 | 204,8 | 3,5 | 38,0 | 24,6 | -35,3 | 192 | 120 | -37,5 |
Ceará | 526,0 | 581,2 | 10,5 | 78,9 | 220,9 | 180,0 | 150 | 380 | 153,3 |
Rio Grande do Norte | 70,5 | 86,4 | 22,6 | 8,3 | 38,9 | 368,7 | 118 | <FONT siz |
Data de Publicação: 26/09/2002
Autor(es):
Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
Roberto de Assumpçao (rassumpçao@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Humberto Sebastiao Alves (hsalves@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor