Feijão: Perspectivas Para A Safra De Inverno 2001/02

            Em abril, inicia-se o plantio da safra de feijão de inverno no Estado de São Paulo. Essa safra não corresponde exatamente à que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) denomina de terceira, uma vez que esta se refere à safra irrigada de feijão plantada nos meses de poucas chuvas nas regiões produtoras entre abril e julho, aproximadamente. Os produtores paulistas que plantam o feijão de inverno o fazem de duas maneiras: com irrigação mecanizada ou sem a irrigação. Em 2001, os principais Escritórios de Desenvolvimento Regional (EDRs) produtores de feijão de inverno, segundo os dados do levantamento CATI/IEA, foram: São João da Boa Vista (20,14 mil toneladas) e Barretos (14,23 mil t), ambos de produção irrigada; Andradina (5,46 mil t), com o predomínio de produção sem irrigação; e Orlândia (4,28 mil t), de produção irrigada. O Estado de São Paulo plantou 53,33 mil hectares de feijão de inverno e colheu 85,83 mil toneladas. A área irrigada, com 28,19 mil hectares, ocupou 53% do total e produziu 70% da produção total com 59,94 mil toneladas (produtividade de 2.126 quilos por hectare).
            Os preços médios diários recebidos pelos produtores paulistas subiram significativamente no final de março e na primeira semana de abril. De um lado, a comemoração da Páscoa diminui a demanda pelo produto, como toda festividade de maneira geral. Por outro lado, segundo os analistas e agentes do mercado de feijão, no final de cada mês aumenta a demanda pelo produto no atacado devido à renovação dos estoques dos supermercados para abastecer as gôndolas no início do mês. A elevação nos preços médios diários recebidos pelos produtores, a partir de 20 de março, foi de 15% em relação ao do dia anterior e de 27% em relação ao do início do mês, magnitude que não se deve apenas aos fatores conjunturais citados (figura 1).

            Os preços médios mensais do período 1996-2002 indicam que a elevação anormal nos níveis de preços está freqüentemente relacionada com problemas climáticos, sobretudo os de El Niño-Oscilação Sul (ENOS), fenômeno relacionado com o aquecimento ou o esfriamento anormal do Oceano Pacífico Equatorial, denominado El Niño no primeiro caso e La Niña no segundo1. Em 1998, o preço apresentou a maior média anual do período, de R$89,60 a saca (em valores reais de fevereiro de 2002), devido à severa estiagem na região Nordeste, associada ao El Niño 1997-98, entre março e maio de 1998, período de plantio da segunda safra na região.
            Em termos nacionais, a segunda safra de 1997/98 teve quebra na produção de 39% em relação ao ano anterior. No Nordeste, a quebra foi de 64% (590 mil toneladas a menos em relação à safra anterior), com perdas quase totais no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. No total, a safra 1997/98 ficou em 2,2 milhões de toneladas, 24% a menos que a safra anterior (de 2,9 milhões de toneladas), o que explica a elevação anormal nos preços durante o ano de 1998 (figura 2).

            O terceiro levantamento para acompanhamento da safra 2001/02, realizado pela Conab no período de 27 de janeiro a 2 de fevereiro deste ano, indica superprodução de feijão em termos nacionais tanto para a primeira safra (1,36 milhão de toneladas) como para a segunda safra (1,58 milhão de toneladas), totalizando 2,94 milhões de toneladas apenas com estas duas safras. A Conab estima ainda que, incluindo a terceira safra, a produção total chegue a 3,25 milhões de toneladas (tabelas 1 e 2).

Tabela 1 - Comparativo de Área, Produção e Produtividade da
Primeira Safra deFeijão 2000/01 e 2001/02

Estados Área (1000ha)  Produção (1000t)  Produt. (kg/ha) 
2000/01  2001/02  Var.%  2000/01  2001/02  Var.%  2000/01 2001/02 Var.% 
Tocantins 2,0  2,0  0,7  1,0  42,9 360  500  38,9
Norte 2,0  2,0  0,7  1,0  42,9 350  500  42,9
Bahia 368,5  423,8  15,0 129,7  254,3  96,1 352  600  70,5
Nordeste 368,5  423,8  15,0 129,7  254,3  96,1 352  600  70,5
Paraná 334,0  394,1  18,0 344,7  453,2  31,5 1.032  1.150  11,4
Santa Catarina 112,0  115,4  3,0 134,4  117,7  -12,4 1.200  1.020  -15,0
Rio Grande do Sul 117,9  123,8  5,0 119,1  102,1  -14,3 1.010  825  -18,3
Sul 563,9  633,3  12,3 598,2  673,0  12,5 1.061  1.063  0,2
Minas Gerais 203,1  219,3  8,0 211,2  230,3  9,0 1.040  1.050  1,0
Espirito Santo 11,0  12,1  10,0 8,3  9,0  8,4 750  740  -1,3
Rio de Janeiro 3,4  2,9  -15,0 2,5  2,4  -4,0 735  835  13,6
São Paulo 78,0  80,3  3,0 107,6  102,0  -5,2 1.380  1.270  -8,0
Sudeste 295,5  314,6  6,5 329,6  343,7  4,3 1.115  1.092  -2,1
Mato Grosso  5,0  3,9  -22,0 3,0  4,3  43,3 600  1.100  83,3
Mato Grosso do Sul 1,5  3,1  106,0 1,7  3,1  82,4 1.150  1.000  -13,0
Goiás 40,0  38,0  -5,0 74,0  64,2  -13,2 1.850  1.690  -8,6
Distrito Federal 8,7  8,3  -5,0 18,8  18,8  2.161  2.260  4,6
Centro Oeste 55,2  53,3  -3,4 97,5  90,4  -7,3 1.766  1.696  -4,0
Norte/Nordeste 370,5  425,8  14,9 130,4  255,3  95,8 352  600  70,5
Centro/Sul 914,6  1.001,2  9,5 1.025,3  1.107,1  8,0 1.121  1.106  -1,3
Total 1.285,1  1.427,0  11,0 1.155,7  1.362,4  17,9 899  955  6,2

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

Tabela 2 - Comparativo de Área, Produção e Produtividade da
Segunda  Safra de Feijão 2000/01 e 2001/02

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Data de Publicação: 16/04/2002

Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
Humberto Sebastiao Alves (hsalves@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor

 

 

 

Estados Área (1000ha)  Produção (1000t)  Produt. (kg/ha) 
2000/01  2001/02  Var.%  2000/01  2001/02  Var.%  2000/01  2001/02  Var.% 
Roraima 0,5  0,5  0,2  0,2  300  300 
Rondônia 91,2  83,0  -9,0 52,3  47,6  -9,0 574  574 
Acre 21,5  21,5  11,2  12,3  9,8 520  570  9,6
Amazonas 9,0  9,0  7,5  7,5  835  835 
Amapá 1,3  1,3  0,5  0,8  400  615  53,8
Pará 72,7  72,7  50,5  53,1  5,1 695  730  5,0
Tocantins 3,3  3,3  1,1  1,6  45,5 340  478  40,6
Norte 199,5  191,3  -4,1 123,3  123,1  -0,2 618  643  4,1
Manaus 77,0  77,0  36,2  34,7  -4,1 470  450  -4,3
Piauí 197,9  208,3  5,3 38,0  87,5  130,3 192  420  118,8
Ceará 526,0  570,7  8,5 87,3  245,4  181,1 166  430  159,0
Rio G. do Norte 70,5  86,4  22,6 8,3  42,3  409,6 118  490